12/03/09

Quarto escuro e um fiapo de luz;

Num quarto escuro, um coração ainda batia, meio fraco. Um ser humano ainda respirava, mesmo que sua respiração fosse praticamente imperceptível. Sua face fora cuspida. Sua dignidade fora posta à prova, fora questionada. A pressão foi tamanha, que o derrubou no chão. E não se levantou. Naquele canto do quarto ficou. O mundo pra ele acabou. Os sonhos? Arrancaram-lhe. A esperança? Não sabia nem o que era isso. Talvez mais uma palavrinha ilusória de que amanhã daria tudo certo. Mas não daria, ele sabia. Não daria porque ele tinha convicção de que naquele mundo não havia espaço, não havia lugar pra ele. Ele era muito grande, muito espaçoso pra caber num espaço tão estreito como aquele mundo. As pessoas lhe causavam náuseas. Eram falsas, dissimuladas, odiáveis. Ele não conseguia, não podia continuar a se enganar. Então, lhe veio a ideia de tirar a sua condição de ser vivente. Queria sumir, ou melhor, queria encontrar algum lugar melhor para que pudesse descansar. A ideia se transformou em ato. Pouco a pouco sua respiração foi se estancando. Seu coração já não se ouvia mais. Acho que ele tinha ido. Onde chegou? Não sei. Se conseguiu descansar? Talvez. Acabou com a dor, com a sua dor. Mas creio que não foi a solução adequada. Ele podia ter feito uma dieta para se encaixar naquele mundo. Também podia ter feito uma revolução para que as pessoas fossem mais espaçosas, mais verdadeiras, mais amáveis. Poderia ter construído um mundo só pra ele. Poderia ter feito tantas coisas... Mas não fez, ele já não sofre mais, mas também não vive mais.

(Erica Ferro)

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