A linguagem das flores, de Vanessa Diffenbaugh
(Editora Arqueiro; 304 páginas)
Victoria Jones sempre foi uma menina arredia, temperamental e carrancuda. Por causa de sua personalidade difícil, passou a vida sendo jogada de um abrigo para outro, de uma família para outra, até ser considerada inapta para adoção. Ainda criança, se apaixonou pelas flores e por suas mensagens secretas. Quem lhe ensinou tudo sobre o assunto foi Elizabeth, uma de suas mães adotivas, a única que a menina amou e com quem quis ficar... até pôr tudo a perder. Agora, aos 18 anos e emancipada, ela não tem para onde ir nem com quem contar. Sozinha, passa as noites numa praça pública, onde cultiva um pequeno jardim particular. Quando uma florista local lhe dá um emprego e descobre seu talento, a vida de Victoria parece prestes a entrar nos eixos. Mas então ela conhece um misterioso vendedor do mercado de flores e esse encontro a obriga a enfrentar os fantasmas que a assombram. Em seu livro de estreia, Vanessa Diffenbaugh cria uma heroína intensa e inesquecível. Misturando passado e presente num intricado quebra-cabeça, A linguagem das flores é essencialmente uma história de amor – entre mãe e filha, entre homem e mulher e, sobretudo, de amor-próprio.
Ouso dizer que, de todas as minhas leituras de 2012, A linguagem das flores foi o livro que mais me afetou no sentido de me tocar, ora positivamente, ora negativamente.
O livro é narrado por Victoria, o que nos deixa ainda mais próximos do que se passa em sua mente e em seu coração.
Os capítulos d'A linguagem das flores se alternam entre presente e passado. Acompanhamos o presente de Victoria: a sua emancipação, as dificuldades de estar sozinha no mundo, sem ninguém com quem contar, as suas noites dormindo em praça pública, cultivando seu jardim particular, até quando ela consegue um emprego em uma floricultura local. Sua vida melhora, ela ganha o suficiente pra não dormir mais na rua e poder se alimentar regularmente. Renata, dona da floricultura, logo percebe o talento incrível de Victoria com as flores. Com isso, Victoria ganha não só a admiração e a confiança de Renata como também a de seus clientes, que solicitam o trabalho de Victoria, por acreditar que, o talento dela aliado a linguagem das flores, tem o poder de mudar a vida deles.
Em meio a isso, Victoria nos transporta para o passado, nos contando a sua vida atribulada em diversos abrigos e lares adotivos, até que ela nos fala de Elizabeth, uma de suas mães adotivas, a única pessoa a quem Victoria amou e por quem foi amada em sua infância.
A verdade é que Victoria sempre teve um gênio muito difícil: avessa a carinhos e incapaz de sentir empatia por alguém. Isso mudou quando Elizabeth conquistou, pouco a pouco, o seu coração. Victoria descobriu que tinha a capacidade de amar e sentiu em si mesma o poder transformador do amor. Porém, Victoria fez algo grave, que culminou na separação das duas. Ela voltou a viver em abrigos até a sua emancipação.
O motivo da separação das duas é revelado gradativamente; e, aos poucos, compreendemos a razão de a Victoria ser quem é, reclusa, amargurada, atormentada por fantasmas do passado e cheia de culpa. O encontro com Grant, um rapaz que trabalha no mercado de flores, a faz encarar o passado e resolver questões que foram adiadas por tempo demais. Daí por diante, notamos uma bela e importante transformação na vida e na personalidade de Victoria.
Victoria é uma das protagonistas mais marcantes que já conheci em livros. Ela nos provoca sentimentos diversos, como pena, afeto, raiva, indignação e amor de novo. Não compreendemos inicialmente algumas de suas ações e decisões, mas aprendemos a enxergá-la e sentir amor por ela da maneira que ela é. Nossa afeição por ela cresce ainda mais quando, a certo ponto do livro, ela se encontra consigo mesma e consegue se perdoar por todo o mal que julgou causar a todos que conviveram com ela.
Um dos pontos mais bonitos do livro é o amor de Victoria pelas flores (amor esse herdado de Elizabeth, que é quem lhe ensina tudo sobre as flores e os seus significados). Eu não entendo nada de flores, por isso foi meio difícil no começo visualizar as flores que eram descritas no livro, mas nada que atrapalhasse a leitura ou tirasse o encanto do livro. Muito pelo contrário, se interessar pelas flores e se deslumbrar por seus significados é algo fácil e quase automático quando se lê A linguagem das flores.
A linguagem das flores é sobre arrependimento, crescimento, remissão e, sobretudo, sobre o poder transformador do amor. Indico a quem aprecia tramas com personagens marcantes e singulares, com histórias de vidas contundentes, que nos tiram da zona de conforto e nos impulsionam a enxergar a vida por novos ângulos.
Erica Ferro
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Um abraço da @ericona.