30/09/13

Entre o amor e a amizade


ehe

Talvez toda aquela impaciência fosse somente pela falta – que ela nunca iria admitir – que ele lhe fazia. Afinal, há quanto tempo eles não se falavam? Era algo que nunca ficaria às claras, não quando isto é confirmado pela boca de uma conquistadora de maus modos.
Se ao menos as coisas estivessem mais diretas, ou se ele pudesse dizer alguma coisa que fugisse ao normal, qualquer tipo de merda mal educada para romper com as barreiras do agora... Mas cá estavam dois idiotas, medrosos e incapazes de assumir a reação de perder a cabeça.
Pois, na guerra com o coração são sempre os pensamentos a pagarem pelas ideias mais absurdas e os olhos a sangrarem pelas coisas que não são o que parecem ser. Mas quem – me diga quem – nunca passou por isso, que atire a primeira pedra.
Eles sempre tiveram uma atração nata, algo de impressionar a qualquer um. Não só uma atração física, mas se tratava de mais. Era como se eles tivessem uma ligação de outras vidas. No entanto, mesmo com tudo isso, essa ligação, essa vontade, a coisa não saía de uma amizade, de uma bela amizade, ainda que o coração de ambos gritasse por mais, implorasse por mais. Quem iria ser o primeiro a baixar a guarda? Quem daria o braço a torcer e diria “Perdi, paixão! Rendo-me a você.”?
Aquela singela paixão de arrancar o siso, ao qual Almeida Freitas se referia, aquela mesma que fizesse a moça romper com todos os seus nãos e conceitos mais profundos. É, de fato ele era a pessoa que mais havia a conhecido a fundo, e não correu como faziam todos os demais. Mas isso era exatamente a coisa que ela mais odiava nele, e uma das coisas das quais ela não queria fugir. Ela provavelmente se perguntava se com ela as relações mais banais sempre seriam tão fora de rumo, tão rentes ao abismo das sensações dúbias.
Ele a adorava como jamais poderia explicar, porém a merda toda aconteceu há três noites. A vodca e o limão juntos o fizeram esquecer-se dos limites - aquelas linhas finas e delicadas que protegem a amizade - e num piscar de olhos tudo se desfez.
O álcool ajudou aos dois, entretanto seu efeito era passageiro e agora, voltamos a dizer que merda é merda e nada - nem ninguém - poderia mudar isso.
Ela acordou um tanto desnorteada, a visão meio embaçada, a cabeça tonta. Onde diabos ela estava? Viu-se deitada numa cama, que, depois de um pouco pensar descobriu ser familiar, mas a tontura e a dor em sua cabeça não a deixavam lembrar-se de quem era a tal cama, contudo não foi preciso muito pensar. A imagem falou por tudo. Ele estava deitado do lado esquerdo da cama, com uma perna pendendo para fora dela, completamente nu. Ela ficou chocada e, rapidamente, checou a si mesma: também estava inteiramente despida. Ela não se lembrava de nada, não naquele momento, em que tudo que sua cabeça fazia era girar e latejar. O que teria acontecido? Por que estavam pelados? Será que tinham... passado a noite juntos?
Entretanto – e a bebida é uma arma traiçoeira – flashes da noite anterior saltaram a sua mente, àquela hora meio adormecida, meia em alerta. Eram imagens embaçadas de corpos que se perdiam um no outro pelo arrastar de corredores que levavam até aquele quarto, até aquele maldito cômodo que colocou toda a amizade de anos em jogo. Mas as formas com que aqueles olhares seguiram trocados a meia luz, e o gosto daqueles beijos roubados lhe despertavam os mais cegos de todos os instintos a fizeram fraquejar.
Ela socou o travesseiro pela enésima vez, enfim as lágrimas apareceram. As lembranças a confundiam mais e mais e no momento tudo o que ela queria era desligar. Porém, não conseguia. Tudo o que sua mente fazia era andar em loop. Por fim, se viu enlaçada pelos braços do seu amigo e amado, do seu agora namorado. Seu amado, ela suspirava só de pensar em pronunciar isso o quanto antes: “meu namorado, meu amado, meu amor...”. Eles conversaram, confessaram amores, paixões e, enfim, se deram por vencidos. O amor, a paixão e toda a loucura que vinha junto com esses dois primeiros sentimentos haviam ganhado a guerra.
Embriagados pelo álcool e pela paixão por tanto tempo reprimida, eles se entregaram novamente aos braços do desejo cálido, mas calmo, dessa vez sóbrios e lúcidos. Fizeram amor em forma de poesia, que declamavam aos sussurros no ouvido um do outro, e fizeram versos de amor em forma de amor prático, carnal.
Ela, pensando consigo mesma, disse que nem em um milhão de anos outro homem conseguiria fazê-la sentir como ele a fez sentir quando se amavam. Eles eram paixão fervorosa, mas eram doçura e poesia. O amor deles derrubava as barreiras do físico e invadiam as fronteiras do espiritual, do surreal, do imaginável apenas aos apaixonados. Ele pensou que ela era a garota mais misteriosamente irresistível, encantadora e apaixonante do mundo inteiro. Ele a queria em seus braços por muito, muito tempo. Para sempre, por que não?

(Allyne Araújo, Erica Ferro & Rebeca Postigo)

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Enquanto devoro A caçada, de Clive Cussler (logo postarei a resenha aqui), se deliciem com esse conto feito por três gurias arretadas. Sério, amei escrever esse conto com a Allyne e a Rebeca. Cara, acho que estou ficando boa nesse negócio (risos)! Outubro postarei várias resenhas da Novo Conceito. Andei em falta esses meses todos com essas resenhas, mas outubro será o mês em que pretendo pagar boa parte das minhas dívidas em relação a isso. Enfim, é isso. Espero que tenham gostado desse conto escrito pelo trio mais arretado da blogosfera. Sim, porque de modéstia nós entendemos (só que não ~risos~). O pedido de sempre: curtam e sigam o blog nas redes sociais. Um abraço da @ericona. Hasta la vista!

21/09/13

Um dos maiores bibliófilos que o mundo já viu

fonte da imagem
José Ephim Mindlin nasceu no dia 8 de setembro de 1914, na capital de São Paulo. Mindlin, desde criança, demonstrou um amor, cuidado e apreço enormes por livros, e foi nessa época em que José Mindlin iniciou a formação do acervo de sua biblioteca, que, paulatinamente, foi crescendo e se tornou uma das maiores do Brasil.
José Mindlin foi jornalista, advogado, empresário, mas o seu lado mais conhecido e admirado é, sem dúvida, a de ter sido um bibliófilo. Foi redator do jornal O Estado de S. Paulo durante quatro anos (1930 – 1934). Exerceu a advocacia por muitos anos e, posteriormente, fundou, em 1950, a empresa Metal Leve S/A. Fosse como jornalista, fosse como empresário, Mindlin nunca deixou de ser bibliófilo: pode-se dizer que o seu amor por livros “nasceu com ele”.
Edson Nery da Fonseca, em seu livro “Introdução à Biblioteconomia”, diz que, na década de 70, Gastão de Holanda recebeu auxílio financeiro para a Editora Fontana de José Mindlin e sua empresa Metal Leve S/A.
José Mindlin sempre buscou estar atrelado a cultura brasileira, como incentivador e como disseminador do conhecimento. Mindlin fez parte de uma variedade de conselhos de museus nacionais, mas também de conselhos internacionais, a exemplo de ter sido nomeado membro emérito da Diretoria de umas das principais bibliotecas de livros raros de todo o mundo, a John Carter Brown Library (Estados Unidos).
Em uma entrevista, José Mindlin fala de sua esposa, Guita, e do quanto que ela apoiou o seu lado bibliófilo. Foi, indubitavelmente, a sua grande companheira, como Mindlin mesmo disse, “em suas andanças por antiquários e sebos” em busca de raridades. Mindlin também disse em sua entrevista que, quando eles encontravam algo a um preço um tanto alto, que Mindlin queria, mas hesitava pelo preço, Guita o incentiva a comprar. Uma parte muito bonita da entrevista é a parte na qual José Mindlin diz que nunca precisou entrar em casa com um livro raro escondido, coisa que acontece com muitos bibliófilos. Guita não só lia todos os livros que Mindlin comprava, como também o impulsionava a comprar mais livros, porque sabia da paixão do seu marido pelo universo literário, universo do qual ela também adorava fazer parte.
Ainda na mesma entrevista, Mindlin discorre sobre a Coleção Brasiliana, iniciada em 1927, mas, que, segundo Mindlin, primeiramente tinha intento de fazer estudos brasileiros, reunindo livros de história e literatura. O que aconteceu é que a Coleção Brasiliana cresceu tanto, mas tanto, que “excedeu a propriedade individual”, palavras de Mindlin. Ciente de que a sua Coleção Brasiliana era de uma riqueza ímpar, Mindlin e família decidiram doá-la a Universidade de São Paulo (USP). 
Mindlin morreu em 2010, aos 95 anos, por falência múltipla dos órgãos, após um mês de internação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
“Nós sempre fomos depositários dos livros, muito mais do que proprietários, porque a gente passa e os livros ficam.” (José Mindlin)
Mindlin não apenas passou por essa Terra, mesmo porque ele marcou a História do Brasil e até mesmo Mundial, como um ser humano singular, um dos maiores bibliófilos que o mundo já viu, que amava imensamente e intensamente os livros e passou a vida a disseminar esse amor por onde quer que passasse.

Erica Ferro

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Olá, pessoas! Tudo bem?
Well, escrevi esse texto sobre o Mindlin há um bom tempo (eu estava ainda no primeiro semestre de Biblioteconomia). Foi escrito para ser publicado no jornal do Centro Acadêmico do Curso de Biblioteconomia. Houve alguns problemas de impressão do jornal e eu não sei se ele foi ou não distribuído para os discentes. Sei que há uma versão em pdf do jornal.
Mas enfim, esse texto está no seção "Homenageado do mês". Eu nem preciso dizer o porquê escolhi homenagear o Mindlin, não é? Está tudo no texto. Espero que gostem.
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Curtam, sigam e recebam um abraço apertado e carinhoso da @ericona.
Hasta la vista!

16/09/13

Eu tento


California Dreamer ☮

Eu tento entender, juro que eu tento. De verdade, eu realmente tento. Sério. Sério mesmo. Eu tento entender pessoas extremamente pessimistas e pessoas que só sabem apontar o lado ruim das coisas, mas não consigo.
Mandando a modéstia para as cucuias, devo dizer que não entendo pessoas assim, porque pessoas assim são incompreensíveis.
Tudo bem, eu sei que há desgraças mil nesse mundo, que existem inúmeras pessoas desprezíveis e desagradáveis nesse universo, mas não existem só tais seres no mundo. Focar no lado ruim das coisas ininterruptamente é um dos maiores erros que se pode cometer na vida. É um erro e um atraso de vida. Imagine que você é desses seres que se fixam na parte desagradável da existência. Imaginou? E agora lhe digo, sem medo de errar, que enquanto você fixa seu olhar nas coisas deprimentes e irritantes dessa vida, você perde uma gama de coisas lindas, floridas e alegres. Não, eu não estou dizendo que o melhor é ignorar todas as desgraças dessa vida. Não, não é isso. O que quero dizer é que não vale a pena passar a vida se lamuriando, praguejando contra o mundo, cultivando preconceitos, se negando a conhecer as coisas empiricamente. Não quero ditar regras, mas acho que seria tão mais útil e eficaz tentar solucionar as coisas/situações erradas que se encontra ao longo da estrada em vez de se ficar reclamando, reclamando e reclamando delas.
Para se viver com leveza, procure ter uma mente livre de preconceitos e um coração livre de mágoas, rancores e/ou qualquer outro tipo de sentimento negativo autodestrutivo/destrutivo. 
E não, isso não é uma crônica do gênero autoajuda. Mas, se a carapuça assim servir em alguém, que seja proveitoso e eficiente.
Há um bom tempo que percebi que a vida pede leveza, pede tranquilidade, pede serenidade. A vida não consegue digerir lamentos infindos. Um indivíduo que prefere viver nos extremos, ferindo os outros com palavras ou gestos, ferindo a si mesmo de uma maneira literal ou metafórica, nunca conseguirá se sentir feliz, pleno e leve feito pluma. 
Aliás, você já sentiu leve feito pluma? Já se sentiu envolto em uma plenitude assim? Eu já, e garanto que é uma das melhores sensações que há.
Seres que leem minhas sacudidas, atentem ao que vêm sendo plantado e arado em seus corações e mentes.
Tento me policiar diariamente para descartar sentimentos ruins e guardar só o que há de bom.
Tento ficar sempre atenta aos sentimentos autodestrutivos que por vezes querem se apossar de mim. Sim, porque, independente de quem você seja, sempre há a possibilidade de um sentimento assim surgir em sua mente. Na forma de quê? Em forma de não-aceitação do próprio corpo. Na forma de crises existenciais desnecessárias, nas quais não se chega a lugar nenhum, a não ser ainda mais no fundo do poço, fazendo com o que o dito ser se sinta ainda mais no fundo do poço. Etc e tal.
De verdade, tentemos ser leves. Busquemos ser leves. A vida é rara e curta para que nos desgastemos e gastemos nosso tempo aqui na Terra com sentimentos que só nos destroem, nos corroem e nos afastam cada vez mais dos outros e, principalmente, da felicidade.
Leveza. Le.ve.za.
É isso que a vida nos pede. 

Erica Ferro

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Olá, pessoas!
Olha só, estou com um certo problema em relação aos sorteios dos livros da Novo Conceito.
Vocês leram essa notícia? Pois é, agora, sorteios nas redes sociais são proibidos por lei. Eu estou tendo algumas ideias aqui, a exemplo de criar concursos culturais, para poder presentear meus leitores com livros da Novo Conceito.
E, bem, devido ao meu atraso com a leitura dos livros da NC e o fato de eu não estar me sentindo bem com isso, mandei um e-mail a editora, explicando as causas (primeiro semestre muito atarefado na UFAL) do meu atraso e me comprometendo a ser mais ágil na leitura e resenha dos livros. Porém, como tenho plena consciência de que estou muito, mas muito atrasada com a leitura, talvez a editora não me queira mais como parceira, o que será muito compreensível. Como tenho muitos livros dela aqui, continuarei lendo e resenhando os que tenho; e se a NC me der permissão, farei concursos culturais para presentear os meus leitores com alguns títulos da NC que tenho aqui comigo.
A NC é uma das editoras mais bacanas do Brasil, tanto por publicar bons livros, mas, sobretudo, pelo carinho que ela tem com os parceiros e leitores dos seus livros.
Enfim, estou aguardando a resposta da editora sobre o meu atraso e minha promessa de ser mais rápida na leitura. Qualquer que seja a resposta, compreenderei. De coração.
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Um abraço da @ericona. Hasta la vista!

12/09/13

Segunda chance


Ele estava no bar com um de seus amigos a tira colo, como sempre seu humor andava péssimo desde o término do seu namoro com a garota mais incrível que ele conhecera. Sinalizou para o barman e enquanto sua dose de uísque era servida, ele observava o movimento sem qualquer interesse.
Ele tinha sido um tolo com Alexandra, e sabia disso. Traiu-a, não com a melhor amiga de Alexandra, mas com a mulher que mais fez mal a ela em toda a sua vida. O que fez Alexandra odiá-lo ainda mais. Desde o término, ele remoía aquilo todos os dias, toda a situação, desde quando conheceu Pérola até o dia em que Alexandra os pegou juntos, na cama.
Ele sabia o que tinha feito de errado e por mais que quisesse falar com Alexandra, sabia que ela nunca o ouviria. Ele conhecia aquela mulher como a palma de sua mão e sabia que ela era orgulhosa o suficiente para viver sem ele.
Nesse momento seu celular vibrou novamente, era outra mensagem da Pérola. Aquela mulher era o diabo em curvas e sensualidade e tudo o que ela dizia o levava mais e mais a sepultura.
Pérola era o diabo em forma de mulher escultural; mas, sobretudo, era o diabo por causa das suas artimanhas. Pedro não entendia bem como ela fazia, apenas se via, constantemente, enfiado nos joguetes de Pérola. Ele mais parecia um ventríloquo nas mãos diabólicas daquela mulher. O que é que ela tinha? Como conseguia dominá-lo tanto? Que espécie de mulher ela era? E que poder de persuasão era o que ela tinha? Era algo fora do normal, decididamente.
Na fatídica noite em que Alexandra os pegou juntos, bem, ele ainda estava embebido em perfeita confusão quando ela abriu a porta do seu quarto. Pérola era sexy como o inferno e ele não sabia ao certo como foi parar em cima daquela mulher. Claro, eles estavam transando, mas tudo o que tinha na cabeça de Pedro era uma névoa densa que o deixava muito confuso com relação a tudo.
Pedro sempre foi um rapaz muito tímido, mas muito dócil também. Por ser tímido e dócil, carregava uma inocência pouco comum nos dias de hoje. Não era um anjo, tinha seus defeitos e pecadilhos na bagagem da sua existência, contudo, depois que viu Pérola, numa noite voltando da casa de Alexandra, ele foi realmente apresentado ao mundo do pecado.
Alexandra sempre foi a garota perfeita, tinha um emprego seguro, casa, carro e um gato; mais conhecido como Café. Eles começaram a namorar ainda no terceiro ano da universidade, isso foi há cinco anos. O tempo passou, ele mudou, porém Alexandra não. O sexo entre eles ficou tedioso, assim como o namoro, dias e horários certos pra se verem, tudo perfeitamente controlado.
Todavia, com Pérola as coisas eram diferentes. Ela ligava para ele com mais frequência que Alexandra e seus diálogos eram mais quentes que qualquer transa. Ele estava inebriado com tudo o que Pérola podia lhe oferecer, entretanto ainda amava Alexandra.
Com Pérola, era só sexo, um sexo louco, extremamente devaneado. Podia-se dizer que uma relação selvagem, focada no lado carnal. Ele achava que gostava disso. Achava, porque, se tratando de Pérola, ele não tinha certeza alguma. Eram só achismos. A mulher era um enigma. Um delicioso enigma, bem sabia ele. Entretanto, ela era um enigma que ele não sabia decifrar. 99% das vezes, essa falta de conhecimento de quem era Pérola, o frustrava e nem a devassa que ela era na cama o salvava da frustração. Ele não amava Pérola. Ele era viciado, inconscientemente, em Pérola. Era como se Pérola fosse uma droga. Sim, uma droga da qual ele precisasse de doses cada vez maiores, por mais que ele soubesse que aquilo só o fazia afundar ainda mais no caos e na destruição. Alexandra era o seu anjo, o seu porto seguro. Era, do verbo não é mais. E o pior: ela era decidida. Ela não o perdoaria, não voltaria atrás em sua decisão. Seu adeus foi definitivo. Pedro estava perdido. Não havia mais amor em sua vida, nem paz. Agora tudo que ele tinha, ou achava que tinha, era Pérola. Mas Pérola era de alguém? Logo Pérola, o espírito mais livre que ele já teve a chance de conhecer? Não, ele não tinha Pérola. Ele não tinha nada. Pérola jogava com ele, o tempo todo. E ele nem sabia quais eram as regras do jogo. Pressentia, naquele momento sentado numa mesa de bar, que perdera o jogo. Perdera no amor, perdera na paixão tresloucada com Pérola. E agora, o que o restava?
Enquanto Pedro tinha seu momento epifania na mesa do bar, Mayara o observava. Ela o via com determinada frequência; e pelas informações que conseguiu coletar, sabia o que esse homem alto e belo havia feito, contudo ela não se importou com nada disso. Afinal, todos cometiam erros e estavam sujeitos às consequências.
Ela tomou coragem e foi até sua mesa. Demorou cerca de cinco minutos até que Pedro a notasse e quando ele o fez, algo dentro dele se iluminou. Talvez por culpa do álcool, talvez por culpa da sua epifania. Ele decidiu, naquele instante, que talvez, apenas talvez, a vida lhe desse uma segunda chance de fazer as coisas direito.

(Rebeca Postigo & Erica Ferro)

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Ah, quanto tempo que eu não escrevia nada em parceria! E hoje, meio que do nada, surgiu a vontade de escrever em parceria, assim, no improviso, sobre qualquer coisa. Chamei a Becka, guria arretada e blogueira desde sempre, mas que voltou às boas com a blogosfera há poucos dias: "e aí, Becka, vamos escrever um conto em parceria agora?". Ela aceitou numa boa e deu nisso daí que vocês leram acima. Gostaram? Aprovam-nos no "rol das parcerias que dão certo"?
Espero que sim!
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Um abraço da @ericona.

01/09/13

Tomada por uma enorme tranquilidade

O final de 2012 e o início de 2013 foram os piores tempos da minha vida. Estudei excessivamente para o ENEM 2012, e o pior: me enchi de medo e de expectativas. Tracei mil possibilidades de fracasso e sucesso em relação ao resultado do ENEM. Temia e queria ao mesmo tempo entrar na UFAL, cursar Biblioteconomia e finalmente viver plenamente como sempre soube que deveria viver; culpo as minhas paranoias, que não me deixavam sair da inércia. Eu pensava, enquanto estudava, "já tenho 22 anos, preciso dar um rumo a vida, preciso parar de ter medo de viver". Vocês podem se perguntar "como assim medo de viver, Erica?", e eu perguntarei, completamente indignada, "como assim vocês não leram esse post?". Leiam e entendam.
Resumindo toda essa fase horrivelmente horrível da minha vida: somou o medo de não passar na UFAL com o medo de passar (porque, cara, se eu passasse, de fato teria que começar a viver, teria que dar a cara a tapa, pagar pra ver, mostrar a minha cara ao Brasil... ok, exagerei ~risos~), que comecei a ter crises de ansiedade. E, como disse num post em que falei sobre a síndrome do pânico, crises de ansiedade são verdadeiras amostras de como é estar morrendo. Você de fato pensa que vai bater as botas, mas você não bate. Você melhora, depois tem outra crise, e assim o ciclo nunca para. Ou melhor, para, ou pelo menos é quebrado se quem sofre desse mal procurar ajuda. Eu procurei porque não aguentava mais me sentir à beira da morte todos os dias. Desde fevereiro que estou me tratando da síndrome do pânico. Confesso que não foi fácil encontrar o equilíbrio, que, mesmo em tratamento, os sintomas aparecem de quando em quando, ora menos agressivos, ora com força total, mas creio que tenho conseguido manter a tranquilidade quando a tontura, a pressão na cabeça e a sensação de desmaio e de sufocamento aparecem. 
Esses dois últimos meses foram os mais tranquilos em relação aos sintomas, com exceção de algumas ocasiões, em que eu iria fazer algo diferente, novo e desafiador, que me deixava muito ansiosa, por mais que eu tentasse manter a calma. Fora isso, tenho vivido muito bem. Finalizei o primeiro período com boas notas, caí nas graças dos colegas de turma e dos professores, fui chamada para fazer parte de um projeto de iniciação científica (na verdade, fui chamada para dois, mas só pude aceitar um, porque não se pode ser bolsista de dois projetos ao mesmo tempo). É, as coisas estão indo muito bem na minha vida acadêmica. Muitos dizem que eu devo ser mesmo uma aluna notável, porque ser indicada a um projeto desse nível logo no primeiro período é coisa para poucos. A professora que me indicou à orientadora do projeto que aceitei, com alegria, fazer parte traçou um perfil muito bonito sobre mim: disse que eu era "muito dinâmica e antenada". Cara, quando uma professora que você admira, por qual tem um carinho gratuito, te indica a um projeto PIBIC, dizendo tais coisas sobre você, há uma elevação da segurança e fé em si mesmo(a). Foi o que aconteceu comigo. Se eu já estava bem comigo mesma antes disso, depois disso, então, me senti ainda melhor e até um pouco ridícula por ter temido tanto entrar na UFAL, pois vi que todos os meus medos eram bobos e que professores e colegas de turma me tratam como de fato sou: um ser pensante, com seus defeitos e qualidades, um ser que pode deixar sua marca, sua contribuição para o mundo.
Minha amiga Ana Seerig costuma dizer, de maneira brincalhona, que geminianas deveriam fazer terapia logo após ao nascimento. De fato, as geminianas que conheço são extremamente inseguras, temperamentais, medrosas, se machucam por pouco ou por puro engano (porque se doem até por coisas que não existem ou não eram direcionadas a elas). Geminianas são difíceis de lidar, são extremamente emotivas e por isso entram em crise existencial numa frequência maior do que a do resto do mundo.
Sério mesmo que eu estou falando de signos? (risos) Na verdade, eu nem entendo de signos. Não entendo de pessoas também, mas curto esse negócio de explorar a mente humana. O erro que eu cometia era explorar a mente alheia antes da minha.
Citando outra vez a Seerig, ela costuma falar que eu sou uma "geminiana evoluída" e diz acreditar nos enormes benefícios da terapia na vida das geminianas (risos). Claro, galhofeiramente. A Seerig é uma avacalhadora de marca maior. E sim, isso foi um elogio. 
Penso que as mudanças no meu jeito de ser derivaram do modo como encarei e lidei com as experiências ruins que passei no período que citei anteriormente. Terapia não é algo inútil, tem sua utilidade, mas a terapia, sem a nossa vontade de mudar, sem a nossa disposição de nos autoavaliarmos, não teria validade. Melhorar, mudar positivamente, evoluir, buscar o equilíbrio depende de cada um, do querer de cada um. 
A tranquilidade vem da consciência livre, do coração despido de qualquer negatividade, da alma leve. Isso só se consegue quando paramos para nos avaliar, analisar o que e como temos feito. 
As respostas, os esclarecimentos e a paz que tanta gente busca e almeja podem estar dentro delas próprias. 
Creio plenamente nisso. Não sou a pessoa mais feliz do mundo, não sou a pessoa mais sábia do universo, mas tenho procurado me manter equilibrada, focada em fazer o melhor que eu puder, do jeito que eu puder, porque só isso já é pra lá de válido. Evito me cobrar, criar mil e uma fantasias sobre um mesmo tema/acontecimento/ocasião, e isso me poupa estresse, aborrecimentos, frustrações e tantos outros sentimentos desagradáveis. Cada dia que passa eu sinto mais facilidade em levar a vida de modo leve, com simplicidade. Isso se deve à terapia, como brinca a minha gaúcha favorita Ana Seerig? Creio que não. Eu sou uma pessoa vaidosa e não darei esse mérito a terapia. Não mesmo. O mérito é todo meu (risos).
Terapia não muda as pessoas. Terapia não cura feridas. Não a terapia em si. A terapia pode ser um meio de enxergar as coisas que sabíamos que sempre estavam ali, mas que tínhamos medo de olhar, de encarar. E então, cabe ao ser escolher se quer encarar ou se querer fugir. O trabalho todo será feito pelo dito ser. Ele e ele mesmo. Ele e os seus demônios. É assim que funciona, ao meu ver.
Esse post ficou mais longo e mais profundo do que eu pretendia. Eu sou prolixa, e isso não é uma qualidade. Não mesmo.
Com tudo isso, eu só queria dizer que estou grata por todas as coisas maravilhosas que estão acontecendo na minha vida, tanto como atleta quanto como acadêmica. Estou contentíssima em relação ao meu estado de espírito. Espero que a minha vida continue nessa constante de conquistas, aprendizados, vitórias e alegrias.
Começo setembro com fé em dias ainda melhores. Amanhã inicio o segundo semestre do curso de Biblioteconomia e o meu desejo é que ele seja tão (ou mais) sensacional e divertido como foi o primeiro período.
Que setembro seja doce pra mim e pra vocês.
Porque ser feliz depende de cada um de nós.
Então não esperemos mais. 
Sejamos felizes, cada qual ao seu modo, mas sejamos felizes sem demora. 
Vamos, a vida nos chama!

Erica Ferro

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