O Começo do Adeus
Anne Tyler
Novo Conceito
208 páginas
☺☺☺
Anne Tyler nos leva a um romance sábio, assustador e profundamente tocante em que descreve um homem de meia-idade, desolado pela morte de sua esposa, que tem melhorado gradualmente pelas aparições frequentes da mulher — na casa deles, na estrada, no mercado. Com deficiência no braço e na perna direita, Aaron passou sua infância tentando se livrar de sua irmã, que queria mandar nele. Então, quando conhece Dorothy, uma jovem tímida e recatada, ele vê uma luz no fim do túnel. Eles se casam e têm uma vida relativamente modesta e feliz. Mas quando uma árvore cai em sua casa, Dorothy morre e Aaron começa a se sentir vazio. Apenas as aparições inesperadas de Dorothy o ajudam a sobreviver e encontrar certa paz. Aos poucos, durante seu trabalho na editora da família, ele descobre obras que presumem ser guias para iniciantes durante os caminhos da vida e que, talvez para esses iniciantes, há uma maneira de dizer adeus.
O primeiro contato que eu tive
com a escrita de Anne Tyler foi através do livro O
Começo do Adeus, publicado pela Editora Novo Conceito em 2012. O
Começo do Adeus é um livro de ficção com enfoque no drama. O livro é
narrado em primeira pessoa. É Aaron quem conta a sua estória, a de sua esposa e
de seus amigos. Aaron é um homem próximo da meia-idade, sócio em uma editora
independente que trabalha com a publicação de séries de livros que tratam de
assuntos para iniciantes, com o intuito de auxiliá-los a lidarem com temas que
não lhes são familiares. Uma espécie de séries de livros que proporciona ao
leitor uma iniciação em temáticas que lhes despertam seu interesse, seja por
necessidade ou pura curiosidade.
Aaron tem uma deficiência no
braço e na perna direita, não que esse seja um detalhe que represente a
totalidade da personalidade ou da pessoa de Aaron, mas ajuda a entender um
pouco do seu comportamento e temperamento. Depois de ter lido a sinopse, estava
curiosa para saber como Aaron lidava com a sua deficiência. Creio que os meus
leitores antigos se lembrem de que eu também sou deficiente (caso não saibam, eis um link em que falo sobre isso), então, mesmo que o
assunto deficiência seja familiar pra mim, gosto de ver como a deficiência vem
sendo apresentada, não só em livros, como também em filmes.
Eu poderia discorrer sobre a
minha concepção de que é preciso que haja urgentemente e largamente uma desconstrução
dos tabus ao redor do tema deficiência, como, por exemplo, essa mania extrema
que a maioria tem de enxergar o deficiente: ou como tipo de herói, porque ele
consegue lidar bem com a deficiência e viver da forma mais plena possível, ou,
como coitado, porque “ah, meu Deus, deve ser terrível ser deficiente!”, sussurra
uma parcela dos ditos “normais”. Sobre a questão de “deficiente não é coitado
nem herói”, quero pedir que assistam esse vídeo aqui. Stella Young diz muito
bem sobre o sentimento de ser deficiente diante de uma sociedade que prega o
encaixe nos padrões vigentes. Em síntese, o que ela diz – e eu concordo inteiramente
– é que o problema não é, nem nunca foi, a deficiência, mas sim a falta de
acessibilidade e de conhecimento por parte da sociedade sobre o que realmente é
a deficiência. Em sua fala, ela coloca, muito sabiamente, que um deficiente
apenas faz com que o seu corpo, pouco ou muito limitado, trabalhe na sua máxima
potência, executando as tarefas diárias e desenvolvendo habilidades para dar
sentido à sua existência, como qualquer outra pessoa no mundo.
Realmente, me empolgo quando o
assunto é deficiência, pois sinto comichões ao ser tratada de uma maneira
estranhamente especial ou com uma admiração acima do normal apenas pelo fato de
ter uma deficiência. E é esse o sentimento de Aaron em relação à própria
deficiência e ao modo como algumas pessoas o tratam. Ao contrário de mim, que
sempre fui tratada com normalidade e apenas com os cuidados comuns por parte da minha família, os
familiares de Aaron, sobretudo a sua mãe e irmã, lidavam com ele com cautela,
com uma superproteção que o fazia se sentir uma espécie de vaso de porcelana,
que poderia se quebrar a qualquer momento. Eu entendo, mesmo, que talvez a sua
mãe e a sua irmã apenas o amassem demais e tivessem receio de que ele se
machucasse, no entanto esse comportamento só sufocava Aaron e o fez se tornar
um adulto arredio e desconfiado dos tratos que recebia ao longo da vida.
Quando conheceu Dorothy, uma
médica excêntrica, que o tratou com a normalidade e naturalidade que ele sempre
esperou de um desconhecido, ele se encantou por ela. Namoraram, casaram, mas
não puderam viver muitos anos juntos porque, certo dia, uma árvore pesada e
muito grande resolve cair no solário, onde Dorothy repousava, depois de
um pequeno e bobo desentendimento com Aaron, e ela morre. Não estou contando algo de
secreto, porque isso já figura na sinopse.
Depois disso, Aaron passa a se
sentir sozinho e muito melancólico, perdido, sem Dorothy. Diante de tudo o que
aconteceu, do choque, do trauma que foi perder a esposa inesperadamente,
conscientemente ou inconscientemente, ele faz uma retrospectiva da própria
vida, iniciando pela infância, passando pela fase da adolescência, até chegar a
idade adulta. Podemos acompanhar o amadurecimento do personagem, que largou
certos medos e se impôs ante a vida. Anne Tyler desenvolveu Aaron com muito
tato e detalhes. É possível visualizá-lo com facilidade.
O relacionamento de Aaron e Dorothy deveria ter sido mais aprofundado, para que não causasse uma confusão e até
mesmo buracos na trama. Sinceramente, fora o fato de Aaron se sentir bem ao
lado de Dorothy por ela não o tratar como alguém fora de série ou como um
coitado, não me foi possível enxergar o que mais os unia. As aparições dela
foram muito mais agradáveis do que os relatos contados por Aaron. Em vida, Dorothy não havia sido alguém capaz de provocar amores ou grandes empatias.
Pelo menos, não em mim. Já no estado pós-morte, ela se mostrou mais amável e
sensível. Contudo, acreditar na veracidade da Dorothy pós-morte ou
compreendê-la como uma criação de Aaron, uma reinvenção de Dorothy mais
aprazível a ele, fica a critério do leitor.
Os personagens secundários são
trabalhados de maneira razoável. Uma que eu destaco é Peggy, sempre solícita e
doce não só com Aaron, mas com todos os seu redor. Cativou-me sem esforço e eu me perguntei. ao longo da leitura, por que Aaron não
enxergava o quanto que ela era uma pessoa adorável. Quer dizer, entendia em
parte. Em minha visão, o fechamento do livro e encaminhamento dos personagens
se deu de forma apressada, mas crível. Classifiquei O Começo do Adeus com três
estrelas, porque, em razão da ausência de um maior aprofundamento em algumas
questões, só posso dizer que é um bom livro.
Anne Tyler não escreve de modo
intricado. A sua escrita é fluida e a leitura se dá de maneira tranquila. No
entanto, não foi uma experiência que se possa dizer maravilhosa. Espero ler outra obra de Anne que, ao fim, eu possa exclamar: “Bem, agora, sim, fui arrebatada por essa escritora!”.
O livro é indicado para quem
gosta de estórias comuns, mas com personagens com um diferencial dentro do
crível, que se apresentam sob a forma de assuntos dramáticos e reflexivos.
Eis o Book Trailer de O Começo do Adeus:
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Por hoje, é só, pessoal.
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Um abraço da @ericona.
Hasta la vista!
Pelo que você falou é um livro que é rápido de ser lido pela escrita fluída da autora e tem uma história bacana, então fiquei tentada a dar uma chance para ele, quem sabe né?!
ResponderExcluirCaso eu leia venho aqui comentar com você o que achei hahaha
Beijos.
Se puder, dá uma olhadinha no meu blog: Blog Palavrear-se:)
Já li dois livros da autora, incluindo esse e não amei nenhum dos dois. Faltou um algo a mais. Quanto a parte sobre a deficiência acho que as pessoas tem um certo receio quanto a maneira de agir. Porque tem alguns deficientes que também tira proveito disso. Quando convêm a pessoa diz que é deficiente e quando não, reclama de estar sendo tratado diferente. Mas é a mesma situação do assunto preconceito. Quando convêm tem muitas pessoas que usam o termo.
ResponderExcluirBlog Prefácio
Lá vou eu escrever de novo!
ResponderExcluirEngraçado que a tua conclusão do post é uma coisa que sempre digo sobre a Anne, ela escreve sobre o cotidiano, sobre pessoas normais e a vida. Também tem uma grande dose de psicanalise em tudo o que ela escreve, acho que ela foi uma das autoras que me empurrou para Freud, amo a forma como a Anne enxerga, interpreta e escreve o mundo em seus livros.
No entanto, não sei se por conta da tradução "O começo do adeus" não é meu livro preferido dela. Acho que ela foi mais genial em "Jantar no restaurante da saudade" e "Lições da Vida". Sabe, a Anne é o tipo de autora que me convida a refletir sobre mim, minhas escolhas e meus motivos. Talvez até ela tenha sido uma daquelas autoras que me ensinaram a problematizar a realidade.
E falando em problematizar, adorei como você problematizou o tema deficiência e a forma como a sociedade se relaciona com ele... Como sou fã da Anne, acho que esse é um legitimo efeito Anne Tyler kkkkk
E, um parentese para o comentário nada haver: Putz, a Novo Conceito bem que poderia ter encontrado uma capa que tivesse mais haver com o livro néh?!?! Essa loira não tem nada haver com a história.
Nunca li nada da autora, mas já tinha ouvido falar desse livro por alto. Não sei se fiquei muito interessada, mas acho que tentaria ler, mais pelo Aaron do que pela coisa do amor perdido (gente, já tem Sparks o suficiente nesse mundo explorando isso hahaha). Gostei muito do que você falou sobre deficiência e também gosto quando o tema é problematizado com maior profundidade.
ResponderExcluirNunca tinha ouvido falar, adorei a resenha!
ResponderExcluirTe espero lá em, beijinhos.
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O livro é bem pequeno e tem uma leitura bem fluente, no começo custei a gostar dos personagens, mas depois fui me agradando mais, e o final do livro é bastante surpreendente e reflete naquela frase “há males que vem para o bem”. O livro é bem lindo e emocionante, enxergarmos tudo com os olhos de Aaron, e a partir do momento que ele passa a ter um novo olhar, as coisas vão se mostrando como realmente são. Mas a capa não tem relação nenhuma com o livro, esta mais para nos, leitores, lendo o livro...
ResponderExcluirBeijos
http://pocketlibro.blogspot.com.br
Já li esse livro há um tempo. Eu gostei bastante, ainda mais da descrição...lembro de cada detalhe até hoje. A minha primeira experiência com a escrita da autora também foi com esse livro. Eu gostei, mas é um livro sem muita emoção...é bom e só.
ResponderExcluirBeijos,
Monólogo de Julieta
Não conheço a autora, mas conheço o livro. Lembro de quando ele foi lançado e que muita gente acabou não gostando porque achou o romance muito superficial. Mesmo gostando da deficiência como tema, eu não tenho, mas me interesso, esse livro não me chamou a atenção, infelizmente.
ResponderExcluirBjs, @dnisin
www.seja-cult.com