16/07/09

Magnólia e suas lembranças...

Magnólia estava como de costume sentada na sua cadeira de balanço olhando para o céu com seus olhos pretos tristes, melancólicos. O céu estava escurecendo.
E Magnólia estava cinza. A vida desta mulher de 60 anos andava muito cinza, sem acontecimentos, o que mantinha a chama de vida acesa dentro dela eram as boas lembranças, aquelas que cheiram a esperança, a alegria, a renovação de vida.

Magnólia cansou de ficar se balançando na sua cadeira confortável de balanço, levantou-se e resolveu sair de casa, ver as pessoas, as árvores, o céu estrelado, a lua, quem sabe. Queria se sentir viva.

Ela ia caminhando com passos lentos, mas longos, olhando tudo, prestando bem atenção em tudo que via. Ela avistou uma roseira, tocou nas pétalas das rosas. Como eram macias! As cheirou. Como eram cheirosas! Quis pegar uma, mas desistiu. Ficariam mais lindas se ficassem na roseira, permaneceriam vivas e belas!

Continuou seu trajeto, se aproximou de uma praça, que era também uma espécie de parque.
Viu então duas crianças de aproximadamente 5 anos de idade, eram duas irmãs gêmeas.
Estavam brincando na gangorra. Os olhos da senhora brilharam, uma lágrima rolou dos seus olhos. Ela lembrou das suas filhas, Marieta e Julieta.
Marieta... Ah, como Magnólia sentia falta dela.
Mais lágrimas saíram dos olhos de Magnólia.
Lágrimas de tristeza, de saudade, de amor.

Marieta tinha morrido aos 7 anos de idade. Um acidente...
Um carro desgovernado a atropelou quando saía do colégio. Julieta escapou por pura sorte.
O carro acertou em cheio a pequena Marieta.

Por meses Magnólia ficou em estado de choque, mal conseguia se alimentar, dormir. Parecia um zumbi.
Mas seu marido Joaquim foi um anjo, cuidou dela, de Julieta, de tudo, lhe mostrou que a vida continuava e que Marieta estaria com ela sempre, em seu coração, gravada na sua alma.
Jamais a esqueceria. E que as lembranças maravilhosas que ela tinha da filha seriam o maior consolo dela. E a vida toda de fato foi.
Mas como ela queria ter visto suas filhas crescerem, casarem, terem filhos, prosperarem...
Mas não foi possível, não para Marieta.

Mas Julieta se tornou uma pessoa maravilhosa. Casou, teve dois filhos, mora no exterior. Tem uma vida próspera, ama o marido e o marido parece a corresponder verdadeiramente. O que faltava mesmo para ela ser completamente feliz era justamente que sua mãe morasse perto dela. Mas Magnólia não quis, gostava do Brasil. Além do mais ela via a filha duas vezes por ano, falava com ela pela internet e a via todos os dias pela webcam. Não era o ideal, mas dava para matar um pouco da saudade. A verdade é que Magnólia andava acostumada com a solidão e falta de acontecimentos em sua vida. Ela caminhava para morte, e não temia.
Simplesmente ia.
Magnólia enxugou as lágrimas, resolveu sair da praça. Continuou sua caminhada, passou por uma igreja, um lindo casamento estava acontecendo. Ela resolve parar e olhar.

Inevitavelmente lembrou de seu casamento, um dos dias mais felizes de sua vida.
Como Joaquim estava lindo! Como seu vestido era lindo!
Ah... como tinha se emocionado, borrado toda a maquiagem! Mas não importava, ela chorava de alegria!
O sim mais firme que disse. As juras de amor...
Até que a morte os separe...
E separou...

Joaquim teve uma parada cardíaca numa noite de domingo, um domingo estrelado. Tinham dito um domingo tão feliz, intensamente feliz. Overdose de felicidade...
Seria isso que o tinha matado?
Julieta veio o mais rápido que pôde para o Brasil. A família toda estava inconsolável.

Principalmente Magnólia. Mais uma perda, mais um choque.
"Ela não aguentará!" - Pensou Julieta.
Mas Magnólia aguentou. Julieta a ajudou, passou uns meses no Brasil, com os filhos. O marido não pôde, por causa de negócios, enfim. Mas permitiu que Julieta ficasse, ele adorava a sogra, coisa rara hoje em dia. Queria vê-la bem, recuperada e vivendo de novo.
Foi difícil, muito difícil. Mas dia a dia Magnólia se fortalecia. E o que a fortalecia? As lembranças. Ela tinha sido muito feliz com Joaquim.
Agradecia a Deus, sempre, por ter dado a chance de ter convivido tantos anos com ele, 20 anos. Sempre que a saudade batia, ela via fotos dele rindo, brincando com a família e em lindas paisagens. Ah, como ele adorava viajar. A quantos lugares tinha ido? Vários! E estava tudo registrado em vídeos e fotos! Eram lembranças que valiam ouro!

Alguém tocou no ombro de Magnólia.
"A senhora está bem?" - Perguntou um jovem.
Ela afirmou que sim, que tinha parado um pouco para ver o casamento, e que lembrou do dia do seu próprio casamento e se emocionou, mas só foi isso, ela estava bem, podia ficar tranquilo.

Magnólia viu os noivos saindo da igreja, felizes. E ela desejou que eles fossem assim sempre. Que aqueles sorrisos se repetissem todos os dias.
Magnólia abraçou suas lembranças e prosseguiu com passos leves, diria até mais alegres.

Quase no fim da estrada, que não era sem saída, ela viu duas estrelas muito brilhantes. Estrelas que se destacavam facilmente das demais.
"Eu amo vocês!", disse Magnólia.
"Vocês estão vivos em mim, na minha memória, no meu coração.
Me lembro sempre dos seus olhos, minha pequena Marieta, eles tem esse brilho de estrela, esse brilho que ilumina qualquer escuridão.
E, quando eu me sinto só, perdida, quase sem vida, você vem me iluminar, me resgatar do precipício. Como hoje. Obrigada por colorir meu dia.
Meu Joaquim, meu eterno amor, nunca encontrei sorriso tão lindo como teu. Agora, só de lembrar, eu começo a sorrir também. Tua alegria contagiava a todos. E ainda contagia, principalmente a mim nesse momento.
Prometo não deixar meus dias se acinzentarem de novo. Vocês não gostariam. Sei que vocês me querem bem, vivendo.
Sempre os amarei." - Disse, por fim, Magnólia.

Os pés a direcionaram para a casa.

Se sentir viva...
Era isso que Magnólia desejou quando saiu de casa, e seu desejo foi atendido.
O dia que estava cinza, ficou colorido. O sorriso perdido, foi ressurgindo em seus lábios. Os olhos tristes e opacos foram ganhando um brilho forte e belo.

Ela decidiu que ia visitar a filha no exterior. E, quando voltasse, ia frequentar uma ONG de mulheres viúvas que fazem trabalhos sociais. Queria se sentir útil. Queria aprender, viver...

Queria ter mais lindas lembranças para contar aos netos num amanhã não muito distante.

Ela aprendeu que as más lembranças devem ser filtradas. Devemos obter um aprendizado delas. Como uma laranja, retirar o suco e jogar fora o bagaço. Ela crê que devemos priorizar o que faz bem ao coração. Que ser atormentado por más lembranças não é saudável. E a vida é infinitamente grande e bela, e nos convida a cada dia para a felicidade.

Por fim, as boas lembranças a abraçaram, secaram todas as suas lágrimas, a acalentaram e a incendiaram de uma alegria, de uma fome de vida e de uma iluminadora esperança. E ela sorriu feito uma criança!

(Erica Ferro)

***

Pauta para o Blorkutando.
Tema: Lembranças.

25 comentários:

  1. desculpa, mas serei sincera com a sua pessoa, não tive paciencia para ler pois és muuuuui grande e eu tenho preguiça ( tusabe ) de ler. Pelo menos comentei. é oqe importa né?
    ps: não dá bola. bejundas haha²

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  2. Muito lindo. Adorei.Incrivel como a vida sempre nos dar uma segunda chance para recomeçar.Para sorrir as vezes derramamos muitas lágrimas, mas vale a pena. Por que no final olhamos para trás e vemos o quanto crescemos.Respiramos aliviados e dizemos.Sim, apesar de tudo, valeu a pena

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  3. Que lição linda!
    Espero que Magnólia tenha adquirido mais e mais lembranças boas para sua bagagem!
    ADOREI!
    *-*

    bjão

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  4. É importante olharmos para trás para ver o quanto já percorremos, mas não devemos viver do passado. Que bom que ela viu isso a tempo!
    beijos

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  5. Todos nós sentimeos saudades de boas lembranças em qualquer momento da vida...
    Recordar é viver!!!

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  6. Gostei de seu Blofg está de parabéns...

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  7. Historia linda e triste ao mesmo tempo.
    ;*

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  8. Cara, simplesmente amei. Texto super bem-escrito e pans. Você escreve super-bem, parabéns!
    Tomara que você saia sim no Blorkutando *-*
    beijos :*

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  9. Adorei o texto, passa uma mensagem bonita, porém um pouco cansativo (por ser tão extenso) e com muita pontuação, algo desnecessário!
    Mas está lindo, você tem muito potencial garota! =)


    Beeijos!

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  10. Gostei muito muito do texto, mostra que mesmo que as recordações não voltem atrás nós podemos lembrar os bons momentos e daí extrair um sorriso, ou uma vida...

    Lindo, lindo...

    bj =*

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  11. PS.

    Amo o blog!
    Escreve lindamente!!


    bjbj =*

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  12. aaaaaaah, porque você escreve tão bem assim e eu não? *chora*
    AIUHAIUHAUIHAIUH'
    menina, que texto lindo: e mesmo comprido, tenha a certeza que eu li ele INTEIRINHO e fiquei aqui, estática, porque esse texto realmente toca a gente e, de certa forma, nos remete a algumas lembranças...
    P-A-R-A-B-E-N-S e eu tenho quase certeza que esse post ganha, uhuul o/

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  13. por mais que seja comprido, li TUDO. sempre leio tudo. *-*

    e não adianta me elogiar: o que são textos de uma aspirante com relação ao de uma profissional?

    acho muito importante nos lembrarmos das melhores coisas da vida, as lembranças boas, para não nos sentirmos sós.

    como sempre, minha Clarice Lispector da atualidade arrasou. :D

    beeijos. :*

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  14. A história é bem grande!!!rsrs...

    Passando pra agradecer a visita em meu blog...e dizer que gostei muito do seu...vou acompanhar *.*

    Bjins...até mais...
    ;*

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  15. Sempre gosto de dizer que recordar, é viver de novo...
    Espaço bonito, palavras intensas e sensíveis.
    Um beijo!

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  16. Olha, é a primeira vez que venho até aqui e já gostei muito do que vi. Parabéns.
    Não achei o texto grande, como alguns disseram. Achei do tamanho ideal para que se tornasse tão encantador.

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  17. Nenhum texto é grande o bastante quando bem escrito. :)
    É estranho essa coisa. Não sei, mas não gosto de me sentir nostálgico. Não me sinto velho, mas começo a pensar que só lembro daquilo com saudades porque não o posso mais fazer. E ser incapacitado de fazer/ter/ser alguma coisa me dá nos nervos, me dói na alma.

    Pareço criança pidona.

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  18. Quando o texto é bom nem percebemos o tamanho dele, e seu texto é "mara" rsrsrs, amei a conclusão do texto, o suco e o bagaço, sem falar na senhorinha assistindo ao casamento e suas lembranças!

    Ajuda a começar o dia melhor!

    Beijos estarei sempre aqui!

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  19. Nossa que texto lindo, nos mostrou que as recordações não voltem , mas podemos sempre lembrar!²

    Lindo blog! Você escreve perfeitamente!
    beijos-toseguindoo!

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  20. Oiee!
    Valeu pelo coment no blog... acho que eu cometi um erro sabe? Total falta de amor!
    Mas nunca mais vou fazer algo do tipo denovo! Tem que ser com alguém que me ame!
    ps: post novo no blog! o/



    Beeeijos!

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  21. Realmente, lindo texto!
    Ah, e adorei as dicas de livro, mesmo e a visita, volte sempre!

    =**

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  22. Érica, minha caríssima amiga...
    primeiramente, eu gostaria de dizer que dá vontade de bater em todo mundo que reclama que seus textos são grandes e que não leram tudo por preguiça. Se já vieram até aqui, porque não ler um texto tão lindo como o seu?
    Por mim seus textos podem continuar desse tamanho, pois eles sempre ficam claros e passam uma emoção muito pura.
    O texto foi muitíssimo bem escrito. Descrito com o maior cuidado e com uma habilidade de escritora admirável.
    No fim, quando você diz "E, quando eu me sinto só, perdida, quase sem vida, você vem me iluminar, me resgatar do precipício", pareceu que uma onda de energia me atravessou. Suas palavras são tão suaves e firmes que grudam na minha cabeça, e meu cérebro as absorve. Pode apostar que vou carregá-las por muito tempo.
    O conto foi muito bem montado. Você introduziu o tema lembrança com uma sutileza fascinante.
    Sem dúvida, esse foi um dos seus melhores contos.
    Ah, mudando um pouco de assunto, agradeço muito pela sua presença no meu blog. Acho o máximo quando você comenta partes e dá sua opinião, me sinto muito feliz de que você pare para analisar meus textos.
    Érica, obrigada pelo texto maravilhoso, que enfeitou um pouco meu dia, e pela sua presença no meu espaço, sempre marcante.
    Beijos da sua amiga marih, e se quiser qualquer coisa, pode contar comigo !
    :**

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  23. Que dom com as palavras hein Erica?
    Parabéns! Devem existir muitas Magnólias por aí, mas devemos filtrar nossas boas lembranças como uma laranja e fazer com que elas nos abraçem. É bom lembrar,rir e chorar com coisas boas que aconteceram com a gente no passado. E nada de más lembranças. Adorei seu texto Erica!

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  24. Érica, minha chará :)

    Estou aqui para agradecer a sua visita, e parababenizar seu blog, você escreve muito bem, de um jeito muito envoltente....

    Sim, um sorriso pode e deve ser fruto também de um momento de nostaugia, daquelas boas lembranças que plantam em nós um dia feliz!
    ... ótima mensagem !

    Estou seguindo seu blog ..

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  25. É isso aí, Erica;

    Neste texto, você demonstrou bem o que realmente nós temos que fazer: "Que é esquecer as coisas que de alguma forma nos entristece E aprender que a vida continua."

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Olá!
Que bom te ver aqui no Sacudindo Palavras.
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Gratidão.
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