Título: Entre Abelhas
Ano de produção: 2015
Direção: Ian SBF
Gênero: Comédia. Drama. Fantasia.
Sinopse: Coisas estranhas começam a acontecer na vida de Bruno (Fábio Porchat), um jovem de quase 30 anos que acaba de se separar da mulher (Giovana Lancelotti). Bruno tropeça no ar, esbarra no que não vê – até perceber que as pessoas ao seu redor estão desaparecendo só para ele. Os dias correm e a situação só piora. Com a ajuda da mãe (Irene Ravache) e do melhor amigo (Marcos Veras), Bruno tentará se adaptar a esse novo mundo com cada vez menos gente.
É difícil falar de Entre Abelhas porque não é um filme raso. Para entender, especialmente sentir, Entre Abelhas, é preciso mergulhar profundamente nessa trama que aparentemente comum. Ah, Erica, um filme sobre um cara de quase trinta anos que acabou de se separar? O que isso tem de interessante? E, espera, como assim ele não consegue ver as pessoas ao seu redor? E é aí que mora todo o problema do nosso querido protagonista: o que fez e/ou faz com que ele não veja mais as pessoas?
O roteiro de Entre Abelhas estava há muito tempo nas cabeças de Fabio Porchat e Ian SBF, mas, no entanto, só há pouco se transformou em um filme tragicômico com uma pegada fantástica. Não sei como surgiu a ideia desses dois, mas que sacada massa! Imaginem vocês: pegar a problemática de uma separação amorosa e, por meio dela, explorar toda uma gama de questões existenciais e de comportamento humano. Super bacana!
Não é um filme que nos responde, mas sim que nos questiona. Questiona-nos bastante. Atentar-se aos pormenores e às entrelinhas é essencial para identificar a intenção do longa.
Depois da separação, Bruno fica sem chão e sem rumo. É como se a vida dele perdesse o sentido. Ele sequer sabe a razão pela qual sua mulher quis a separação, e isso o consome. Mergulhado numa tristeza e angústia aparentemente sem fim, Bruno vai perdendo aos poucos a capacidade de enxergar as pessoas que estão a sua volta. Ele sabe que elas existem, que estão lá, mas não mais as consegue ver. Um pouco mais a cada dia, desaparecem desde desconhecidos, celebridades, jogadores de seu time do coração, até mesmo pessoas que um dia lhe foram muito importantes.
Assistir filme no cinema tem um gosto diferente: há diversas reações diante de uma mesma cena. No entanto, percebi que a minoria estava conectada verdadeiramente com o filme, sentindo-o de forma notória. A maioria estava ali esperando por uma cena cômica, uma frase que as fizesse rir. E sim, tem cenas cômicas, mas apenas para aliviar o ar espesso do drama. A mãe de Bruno e o Nildo, o garçom que ela contrata para protagonizar uns "testes" com a finalidade de Bruno voltar a ver as pessoas, por exemplo, cobrem boa parte do lado cômico. No entanto, com o passar do filme, eu ri cada vez menos das partes cômicas. Eu estava muito ocupada preocupada com o problema do Bruno. Eu estava verdadeiramente preocupada comigo mesma e com todas aquelas verdades que estavam sendo deixadas nas entrelinhas de cada cena. O filme me incomodou. E isso foi e é bom. Uma obra só vale a pena quando nos incomoda, quando nos cutuca, quando nos tira da zona de conforto.
A frase na imagem acima foi dita a Bruno por seu amigo Davi (Marcos Veras). É possível um casamento maravilhoso terminar sem nenhum motivo? Será que o casamento de Bruno era mesmo maravilhoso? Ou apenas Bruno o via assim? Talvez fosse difícil Bruno admitir que o problema era ele mesmo. Concordo com Davi, somente nisso, afinal acredito que esse personagem foi criado com o intuito de incomodar e de representar uma boa parcela do machismo deprimente presente em alguns homens, a fim de incomodar o espectador, para que esse último rebata as ideias do primeiro, desconstruindo atitudes e ideologias ofensivas.
Quem dera fôssemos ao menos um pouco semelhantes às abelhas! Será que vocês e eu sabemos a nossa função no mundo? Que tipo de abelha nós somos? O que acontece quando não sabemos qual a nossa função? Ficamos perdidos? Sem rumo? Nada faz sentido? Faz sentido que nada faça sentido quando não há sentido no que fazemos. Quando não sabemos qual é o nosso papel no mundo, nos isolamos. Quando nos isolamos, nos entristecemos por completo. Quando nos entristecemos por completo, nada mais tem importância ou sentido. Quando nada mais faz sentido, apenas sobrevivemos. É quase impossível enxergar o outro quando sequer conseguimos nos enxergar. Sou tentada a concluir que o Bruno nunca tenha enxergado os outros e a si próprio. Ele via, e ver é diferente de enxergar. Ver é passar os olhos, sem se deter em algo por mais de alguns segundos. Enxergar pede exame, demora e cuidado com o que se vê. Enxergar requer equilíbrio, também. Há que se enxergar o outro e a si mesmo, mas nunca em demasia, para não se tornar alguém que só se preocupa com os outros, negligenciando a si mesmo, ou enxergando apenas o próprio umbigo, ignorando o que acontece debaixo do nariz.
A separação jogou na cara de Bruno que ele não sabia que tipo de abelha era. Bruno estava no meio de abelhas que aparentemente não só sabiam da sua função como a desempenhavam com precisão e a vida lá fora parecia funcionar muito bem. Menos a vida dele. Será que Rebeca foi o portal de Bruno para a sua autodescoberta? Isso é o que fica no ar, à critério da imaginação dos espectadores. É claro que eu criei um desfecho bem bacana para Bruno, afinal, sofri e chorei com ele a cada cena doída e crítica. Fabio Porchat me encanta, seja na comédia ou no drama. Quando se é bom, se é. E o Fabio é bom, muito bom.
Fica a indicação para quem gosta de assistir filmes que causem indagações e reflexões das mais rasas às mais complexas. É um filme que cutuca, mexe e faz os nossos neurônios fervilharem. Ou seja, é um filme extremamente válido nesse mundo no qual ninguém escuta ou enxerga nada, nem a si próprio.
Erica Ferro
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Trailer:
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Um abraço da @ericona.
Hasta la vista!
Guria, fiquei ate com vontade de assistir o filme.
ResponderExcluirGosto de ser questionada. rs
Bela resenha.
Beijo
Adorei seu texto sobre o filme! Fui ver esse filme no cinema e tive a mesma impressão que ti em relação às pessoas presentes na sala. Adorei o filme, ele me fez ter várias reflexões e como você mesma disse, me senti cutucada. Adorei a atuação do Fabio Porchat, eu nem sabia que ele era bom em drama antes do filme, mas adorei o quão versátil ele se mostrou. Outra coisa que adorei no filme foi a música no final *.*
ResponderExcluirBeijos!
http://aluafoiaocinema.blogspot.com.br/
Não tinha ideia que "Entre abelhas" era uma história para nos levar em uma jornada existencial. Gosto e não gosto de filmes e livros assim, mas acho eles necessários, de vez em sempre é bom encarar algo que nos tire do lugar de conforto e nos faça olha para nós mesmos e ao redor de forma diferente. O desconforto é necessário ao conforto e nada melhor que a arte para nos tirar da zona de conforto, nos desconstruir um pouco.
ResponderExcluirNão sou cinéfila, você sabe, mas "Entre Abelhas" entrou em minha lista. Cedo ou tarde vou me encontrar com ele. Obrigada Erica por compartilhar!