Muitos podem achar que ser
deficiente é algo sofrido, difícil, triste e sombrio. Na verdade, ser
deficiente não é o problema. Pelo menos eu, pessoa com deficiência, não vejo a
minha deficiência como um problema. O problema é a falta de acessibilidade –
que vai bem além de calçadas e rampas. E de conhecimento por parte dos não
deficientes, claro.
Duas coisas que facilitariam
bastante a vida das pessoas com deficiência: acessibilidade e o debate
constante e maciço sobre o tema deficiência. Porque, veja bem, se as pessoas
com deficiência tivessem assegurado o seu direito de ir e vir, bem como
oportunidades de desenvolverem e aplicarem suas habilidades, seja no meio
escolar/acadêmico e/ou no mercado de trabalho, muitos dos constrangimentos e
lutas judiciais não precisariam existir.
Dia desses eu tive o desprazer
de ler uma matéria a respeito da falta de acessibilidade enfrentada por umadvogado cadeirante num fórum de São Francisco de Paula/RS. O que mais me
chocou não foi só a falta de acessibilidade, mas sim o que o magistrado disse
para o cliente do advogado: “Por que tu não botou um outro advogado? Sabia que
ia ser assim.”. Tocante isso, não? Quer dizer que não evoluímos nada ao longo
desses anos? Quer dizer que a sociedade continua pensando pequeno em relação à
causa das pessoas com deficiência? Quer dizer que nós, porque temos uma
deficiência, devemos ficar em casa, sem estudar ou trabalhar porque,
aparentemente, a sociedade acha mais fácil e prático nos excluir do que
investir em acessibilidade para que todos, sem exceção, possam ser livres para
viver e executar as suas atividades com plenitude? Eita sociedade caduca! Será
que esse quadro um dia vai mudar? Ou a nossa luta se resumirá a dar murro em
ponta de faca? Oh, não! God não permita!
Bem, bem, depois do momento
desabafo, porque não, eu não consigo falar acerca de deficiência sem “soltar os
cachorros”, nem que seja só um pouquinho. Eu tento não me estressar com todos
os absurdos que eu vejo envolvendo a pessoa com deficiência, mas é impossível,
já que não me estressar seria aceitar e me acomodar em relação ao descaso e a
falta de respeito que nós, deficientes, encaramos todos os dias. No entanto, em
contrapartida, há uma gente linda e boa que luta todos os dias para que
deficientes sejam vistos como verdadeiramente são: humanos. Gente bela que mostra por meio de
poesia, literatura e arte que todos somos diferentes, mas que as nossas
diferenças podem conviver lado a lado e, juntas, formarem uma bonita
diversidade.
Eu vi uma animação
linda-de-viver chamada “Por que Heloísa?”. Segundo as minhas pesquisas, a animação é a continuação de
um livro homônimo, escrito por Cristiana Soares. O roteiro é de Cristiana e
Carolina Ziskind e as ilustrações são de Ari Nicolosi. O curta é uma realização
em parceria entre Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São
Paulo e a TV Cultura. Se quiser saber mais, é só clicar aqui e conhecer melhor esse trabalho.
É um curta com uma dose de poesia que diz mais ou menos o seguinte: “Olha, as pessoas com deficiência não são de outro mundo. Você não precisa ter medo delas. Você precisa conhecê-las e, junto com elas, lutar para que cada vez mais todos tenhamos o direito de ser quem somos, fazer o que nos apraz e andar por onde quisermos andar, seja com as pernas, com próteses ou sobre rodas.”. E essa é a mensagem que eu queria deixar aqui hoje. Espero que você, leitor, assista essa animação, absorva os seus ensinamentos e possa praticar no seu dia-a-dia. O mundo só mudará se mudarmos a nós mesmos primeiro.
Eis a animação:
Concordo plenamente com tudo que disseste e me lembrei de uma reportagem que mostrava as diferenças de acessibilidade em outros países, onde pessoas com deficiência tem completa mobilidade, e é realmente revoltante como nosso país engatinha nesse processo. Você está certíssima não devemos nos calar para as mentalidades começarem a mudar.
ResponderExcluirAmei a animação, é uma ótima forma de ensinar desde cedo o respeito à diversidade.
beijos
Eu acho que o problema está na falta de educação para a diferença.
ResponderExcluirE isso aplica-se à deficiência, à cor, à raça, a tudo o que fuja ao padrão estabelecido como "normal". Como se na realidade não fossemos todos diferentes. Temos esta mania de nos iludir e fazer de conta que somos todos iguais, rejeitando o que seja evidentemente diferente e depois não lhe reconhecemos os direitos. O lado negro do ser humano.
O problema com a mobilidade e respeito com a deficiência não se resolve por decreto (ajuda mas não resolve).
Em Portugal, e na maioria dos países europeus, a legislação obriga a que todos os estabelecimentos públicos tenham rampas e acessibilidade a pessoas de mobilidade reduzida que não são só os portadores de deficiência, temos os idosos também, mães com os seus bebés, ... E mesmo assim, tivemos à pouco um processo em tribunal porque num prédio os vizinhos foram contra a colocação de uma cadeira para facilitar o subir das escadas a um morador com deficiência. Perderam, claro.
Mas fica a demonstração da falta de solidariedade, de compreensão e até de não pensarem que um dia podem eles precisar.
As cidades, os transportes públicos, as ATM's, o acesso a estabelecimentos públicos mesmo aqui na Europa ainda têm muito trabalho pela frente, apesar de já existir legislação nesse sentido, é preciso mudar mentalidades e para isso é preciso educar.
Parabéns pelo post.
Muito bom o seu post Erica, concordo com tudo, mas gostaria de falar um pouco do meu problema com o ser humano no geral. Acredito que a pior invenção de Deus foi o ser humano, sério. As pessoas com deficiência devem lutar pelo seus direitos com unhas e dentes, assim como as pessoas no geral devem ir em busca do que lhe é de direito. Tive conhecimento de um caso bem próximo onde moro, a pessoa deficiência ficava a procura de qualquer brecha para fazer uso do seu estado físico para conseguir $$ na justiça. Enfim, é lamentável como o ser humano é.
ResponderExcluirAdorei o curta, e tenho o maior respeito por todos no geral, sem exceção de raça, cor ou sexo. Acredito que um dia viveremos todos em harmonia, respeitando uns aos outros.
Concordo com vc.
ResponderExcluirTenho deficiente na família, ele é mau humorado em certos momentos porque questão do ser humano e não pela deficiência. Sempre está rindo e tirando onda. Meus pais me criaram para que eu não veja a deficiência como um problema ou algo super anormal. Acho que, por assim dizer cada um tem seu diferencial e isso que deixa o mundo mais bacana.
Além de ser preciso deixar os lugares mais acessíveis, também é preciso mudar a educação e consciência das pessoas, pois só assim teremos um mundo mais civilizado para todos.
Abraços Mika,
Pensamentos Viajantes
P.S: sempre te achei bem humorada ;)
Eu tenho visto muita gente dizendo que a sociedade esta cada vez mais moderna, informatizada e tanto outros trecos. E por um lado, o meu lado sem noção e mesquinho - como a maioria de todos os idiotas que se dizem sabidos das leis e respeito, e se acham incapazes de aceitar o aprendizado e sabedoria que vem dos outros e com os outros - me deixo levar, e sem perceber, acabo sendo levada pela corrente de abestados que acham que tudo esta diferente. Não. Não, é não assim, ora pois! Ao mesmo tempo em que ensinamos nossas crianças a ser mente aberta e respeitar as diferenças e diversidades, há uma leva de "sabidos de meia tigela" que acham que acham que isso não é o certo, que se é com a ignorância e força que se ganha a vida e isso é tão brutal, tão sem foco que, as vezes, perco a fé na humanidade. Será que é tão difícil sonhar com uma realidade diferente, onde as pessoas são respeitados pelo que são, pelo que gostam e pelo que os torna únicos? Eu admiro pessoas que saem a ruas e dizem não a isso, que se revoltam contra o sistema absurdo e que pensam sobre a caixa, e é exatamente por isso que nunca devemos perder a capacidade de nos indignar, lutar e combater casos e irresponsabilidades como essa. Falo isso porque, mais cedo acompanhei a notícia da morte de uma garoto de 14 anos, órfão, negro, adotado por uma casal de homossexuais, especial e que foi brutalmente assassinado por seus colegas de escola, que enxergavam a condição de seus pais como algo inaceitável. Além de me indignar pelo fato da agressão acontecer em uma escola e com alunos que estão estudando para se tornar melhores, eu me pergunto: Onde foi parar o direito desse garoto, que abandonado, excluído por sua deficiência, ainda se viu sofrendo por um preconceito relacionado as únicas pessoas que lhe estenderam a mão em meio a isso, e ainda: Que tipo de educação é essa que ensina nossas crianças a respeitarem os demais pela metade e por outro lado ceifar a vida sem ao menos da a chance de que estas vitimas possam se explicar? Me explica, por que tanta idiotice, tanta besteira, tanta loucura horrenda!
ResponderExcluirP.s: Assista "Hoje eu quero voltar sozinho", é super interessante.
Bjo Erica!
Olá Ericona! Com certeza o maior problema está na acessibilidade e na falta de debate, falou tudo! Eu amo seus textos, como sempre colocando toda a verdade para fora. Vou assistir essa animação.
ResponderExcluirBeijos,
Monólogo de Julieta
Oi, Érica!
ResponderExcluirGrande lição a animação; mesmo diante de tantas dificuldades, Heloisa era uma menina com olhar positivo, pois era cercada de pessoas também positivas. Se os administradores públicos tivessem um olhar mais rico para as cidades, tratariam as pessoas com dificuldades com mais respeito. Foi o tempo em que o deficiente não participava da vida fora de casa.
As reportagens nos indignam e também indignam quem as mostram para nós. Noutro dia, estava assistindo o jornal local, numa reportagem sobre pacientes que precisam ir para outra cidade para fazerem hemodiálise. Alguns viajam debilitados e usam cadeiras de rodas. Mesmo que não precisassem usar, no ônibus em que embarcariam, tinha uma imagem ao lado da porta informando que havia elevador para cadeiras de rodas, mas ao abrir a porta, cadê?
Total desrespeito com o cadeirante e com os seus familiares. Uma arbitrariedade contra a Lei que estabelece normas gerais
e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida nas cidades e exemplo de uma problemática entre tantas outras que acontecem diariamente nas ruas de situações que são camufladas embaixo dos nossos olhos por governantes e autoridades, o que indigna cada dia mais aqueles que sabem dos seus direitos, que lutam por eles, mesmos não sendo respeitados e ouvidos, mas nunca deixam de reivindicar. Exemplo de luta admirável que devemos aderir, denunciando ou chamando atenção para o problema e não virando a cara como muitos fazem.
Beijus,
Ferro, você é uma poesia em forma de gente, até em assuntos sérios. E a TV Cultura faz um trabalho fantástico, poderia ter mais apoio do governo, inclusive. Enfim. Há muito que se debater sobre esse tema, conheço gente fazendo TCC sobre isso (mobilidade / acessibilidade urbana). E concordo contigo, temos muito há fazer e a nos mover. Todos devem ter o direito de ser e exercer quem são. Triste seria o mundo sem as genialidades de Stephen Hawking, dando um exemplo bem aleatório. Haha. Podemos começar a mudar esse mundo que muito quer, e pouco possibilita fazer. Que o direito de locomoção de todos não precise de "habeas corpus" para ser exercido!
ResponderExcluirUm super beijo,
gabi <3
Concordo plenamente com você.
ResponderExcluirÀs vezes, imagino que a humanidade nada evoluiu ao longo desses milhares de anos. É triste ver como muitos ainda tratam com desrespeito as minorias em geral, não só os portadores de necessidades especiais.
O problema é que isso só será resolvido quando a grande massa se conscientizar. E, aparentemente, não há qualquer esforço para isso.
M&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista de março. Você escolhe o livro que quer ganhar!
Oi Erica! Tudo bem contigo, minha flor?
ResponderExcluirBelíssimo texto. A carga de revolta nas suas palavras é totalmente justificada, pois ainda vivemos em uma sociedade retrógrada e preguiçosa, que prefere deixar as coisas como estão a realizar mudanças que melhorariam a vida de grande parte da população e, de quebra, ainda traria mais profissionais e pessoas qualificadas ao mercado. Uma verdadeira pena, um verdadeiro descaso. Tive certo contato com essa realidade quando estudei Libras na faculdade (como disciplina eletiva), e é triste ver a dificuldade de acesso que pessoas com deficiência ainda precisam enfrentar. Mas a luta não pode parar, e te admiro por isso. =)
Beijos,
Priscilla
http://infinitasvidas.wordpress.com
Infelizmente, o ser humano não sabe lidar com o ser humano. A atitude desse magistrado é uma atitude lamentável. Belíssimo texto, Erica. Beijos.
ResponderExcluirÉ lamentável que ainda se tenha que ouvir coisas como as proferidas por esse juiz. Belíssimas as suas palavras!
ResponderExcluirJá perdi as contas de quantas vezes disse pra ti o quanto admiro a sua garra, e não é por você ser deficiente, é por você, as vezes ser mais humana que muitos. Ter uma visão extraordinária do mundo ao seu redor.
ResponderExcluirEu também fico horrorizada com a escassez de acessibilidade no nosso país, se todos tem direitos iguais, cade esses direitos?
Beijo
Oi Érica,
ResponderExcluirÓtimo texto e reação bem espantosa com o jeito desse juiz.
O mal de algumas pessoas é nunca pensar no dia de amanhã, hoje ele é juiz e respeitado, se achando no direito de destratar os outros, mas e amanhã? Se um dia ele não for mais...Poder não mede a alma, só isso...
Eu estudei Libras na facul, nem lembro muito. Ainda gostaria de fazer um curso futuramente, gostei do curta, não tinha visto
bjs e tenha um ótimo domingo
Nana - Obsession Valley
Gostei bastante do testo e é um assunto que devemos debater sempre e não só debater como procurar soluções
ResponderExcluirAssisti uma reportagem mostrando a diferença entre o tratamento que as pessoas com deficiência tinham aqui no Brasil e lá nos Estados Unidos e a diferença é gritante, como eles tem muito mais respeito do que aqui
Assim podemos ver como o nosso pais esta atrasado em relação a acessibilidade e isso remete ao preconceito e ignorância que muitas pessoas tem, por não conhecer a realidade de cada um
Já estou seguindo ;)
Beijos
http://pocketlibro.blogspot.com.br
Ericona, saudade daqui e de você! Sou sua fã! :) Beijos
ResponderExcluir