27/02/11

Linhas que uma alma liberta escreveu

É hora de abjugar-me, de liberar as ideias, de deixar que elas se organizem ou se embaralhem de vez. Estou me permitindo. Quero falar do céu, do sol e do mar. Quero falar do sentir. Quero falar dos sonhos que nasceram para morrerem sem ser.
Esses dias notei que não estava admirando o céu, que andava pelas ruas olhando para os meus próprios pés; acho que por medo de cair, ou simplesmente desânimo, ou acômodo, esquecimento. Poucos se lembram de olhar para o alto, de se deleitar com o azul do céu, de espiar a passagem lenta das nuvens e de sentir bem dentro do coração que toda essa perfeição não é obra do acaso. Vi que estava fazendo parte do grupo que anda de olhos fechados para tudo e todos. Abri os olhos a tempo. Agora ando olhando para cima, tão somente para o alto, observando o passar tranquilo das nuvens, me deliciando com o sol sobre a minha cabeça, que me toca a pele com seu calor ora sutil, ora intenso.

Preciso ver o mar. Preciso que o mar me veja. Preciso me encontrar nas águas do mar. Preciso sentir o toque das águas em meu corpo, me acarinhando. Preciso dançar no embalo das ondas. Está decidido! Vou a praia logo menos!
Nas análises de mim, descobri que hoje estou bem menos sensível do que um dia fui. Não que eu tenha perdido a sensibilidade ou deixado que boa parte dela morresse ou se esvaísse não sei por onde e nem para onde. Apenas não acho seguro sentir tanto quanto sentia antes. Antes vivia de joelhos machucados, cotovelos arranhados e febril, por ser extremamente transparente, por não ter nenhum pudor em dizer do que eu era feita, de contar os meus segredos. Me jogava em qualquer abraço que julgava ser amigo, me encantava por qualquer sorriso largo e bonito, mas que na verdade era vazio, sem alegria por trás dele, sem verdade. Hoje desconfio de abraços, de sorrisos, de olhares e de palavras doces. Não, eu não perdi a fé na humanidade; não por completo. Só acho que para o meu próprio bem é aconselhável duvidar de tudo e todos. Dúvidas trazem reflexões e reflexões podem trazer conclusões.
Umas horas sinto necessidade de me mostrar por inteira, de abraçar as pessoas e de dizer a elas o quanto são me são caras. Depois me irrito porque não vejo reciprocidade da parte delas. Depois me irrito comigo por esperar reciprocidade, pois o bonito mesmo é gostar das pessoas de modo despretensioso. Depois me irrito porque o lado mais podre das pessoas me é revelado, o que me faz concluir que boa parte da humanidade é indigna de confiança, afeto e respeito; então me fecho novamente; escondo a sensibilidade sob o tapete da minha alma e volto ao meu hábito de duvidar do mundo.

Amigo, para terminar nossa prosa amalucada, vamos falar das impossibilidades dessa vida. Me diga você, o que é impossível? Vi uma frase que dizia que o impossível não existe, que, com esforço e empenho, se pode transformar o aparente impossível em possível. É verdade? Acho que não tenho conseguindo transmutar o impossível em possível. Não é tão fácil assim. É preciso empenho, força, foco etc. Onde consigo uma porção de força, empenho e foco? Quando saber que vale a pena persistir num sonho? Há uma hora de desistir? Há sonhos indignos?
São tantas as indagações, tantas e tantas e tantas. A vida é mesmo complexa, não é, companheiro? Por isso que a minha lei foi sempre ir vivendo e ir vendo onde o caminho está dando. Mas confesso que me cansa esse negócio de ir vivendo, assim, sem certificados, e eu passo a querer mais que isso, entende? É nessas horas que eu me desespero a pensar, crio mil e uma teorias, mergulho em duas mil e uma utopias, para depois me cansar do desespero e voltar a calmaria de ir vivendo e ir vendo, vivendo e vendo, sem entender direito, apenas com a graça de sentir (o que já é grande coisa).

(Erica Ferro)


Alinhar ao centro***

Viram? Sempre volto. O negócio é não esperar permissão alheia, é me permitir escrever o que eu quero, sem medo de parecer boba, louca, incoerente... ou seja lá o que for.
Até a próxima, pessoas!
Um abraço da @ericona.

29 comentários:

  1. Papos, textos, pensamentos "amalucados" surgem sempre e sempre valem pra colocar a doidera pra fora e depois recolocar o cérebro no lugar.

    Quanto à sensibilidade, nem sempre não tê-la é melhor que tê-la e o inverso. Aliás, qualquer coisa, em extremo, nunca é válida. Extremo é sinônimo de falta de conhecimento do assunto, ou tentativa de não saber; é negar-se a ver as falhas. Sentimentos são sentimentos. Negá-los não é benéfico, tanto quanto não o é escancará-los. Desconfiar de todos não é a solução, assim como uma única traição é problema geral.

    E a solução, então? Não sei. Talvez esperar que alguém te procure, talvez procurar alguém em quem se possa confiar, talvez simplesmente mudar aos poucos, onde se encontra a falha...

    Cada um é um, cada um com sua própria solução. Única é só a conclusão: extremos não.

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  2. Sempre que permitimos que o que está dentro de nós se mostre, surgem todos esses questionamentos e dúvidas. E muitos mais ainda. Ninguém está pronto. Ninguém se conhece totalmente. Acredito, então, que talvez a única solução seja ir "vivendo e vendo", cada hora seguindo uma estratégia, se é que esses tipos de raciocínios se aplicam às doideiras da vida.

    Que bom que você apareceu!
    Abração!

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  3. Sensibilidade não é coisa que se perde, Ericona, ela às vezes apenas se cansa e depende do nosso querer reavivá-la. Acho que isso de querer um lugar seguro pode ser substituido pela compreensão e autoconfiança. Se fulano é indigno e cicrano é falso, meus pêsames por eles, eu que não me abalo com almas menos evoluídas! Se não temos nada a esconder e um coração puro que não guarda ódio, nada poderão fazer contra nós!

    Ah! Acho que existem coisas impossiveis, mas elas são bem raras de se ver. Quase tudo tem jeito, vale só ter cuidado pra não perder o prazer de viver cada diz por um ideal.

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  4. É... a vida é muito complexa.
    Até demais!

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  5. Hey Erica ^^

    De muitos textos esse é mais um qual me encontro e tenho a certeza que muitos também.
    Quem foi que disse que a vida é fácil? porque morreu cedo só pode! como fácil? temos em mente em nunca desistir, porém ter a certeza que vamos conseguir é outra história.
    Mas sabe que ainda acredito que prefiro chorar mesmo sem conseguir e ter comigo que tentei.

    Xoxo ótima semana .... AMO AQUI.

    :: Loma (www.night-angel.org)

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  6. Só não se feche por completo e ou crie barreiras para que os outros não cheguem até você, se permita conhecer e ver para quem possa valer a pena se mostrar.

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  7. mas na hora de escrever não tem que parecer nada além de você... e gostei muito do texto.. dá pra refletir muito em cima dele.. xD

    bjsssss

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  8. Oi, Ericona. Ë sempre bom colocar os pensamentos e as ideias em ordem. Tentar compreender, questionar e refletir os porquês. Olhos e pensamentos para cima, sempre. Tem uma frase que diz que "o impossível é só questão de opinião", e eu acho que não há nada que não possamos ser.
    Beijão

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  9. Existem coisas impossíveis, ao menos neste plano. É impossível ressuscitar, curar um deficiente físico e devolver a juventude ao velho. Talvez em um futuro distante isso seja possível, mas hoje não. No entanto, a maioria das coisas que consideramos impossíveis não envolvem as leis naturais, mas sim os limites que estabelecemos dentro da nossa mente; portanto, ali, em nosso íntimo, o impossível não existe, o que há é a nossa escolha de considerar ou não possível.
    Beijo
    Adri

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  10. Achei linda a sua praticidade englobando vários assuntos ao mesmo tempo. Coisa para poucos! Muito bom, Erica!

    Um beijo :* Volta triunfal, hein amiga?

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  11. Esse negócio de viver e ir vendo, eu acho, acaba limitando vez ou outra a filosofia e ideologia das pessoas. Ás vezes viver é ir sentindo e não vendo. Também há que descobrir um pouco de tudo ao invés de esperar que os olhos vejam pra poupar o trabalho.

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  12. Que bom que vc sempre volta querida, porque eu adoro ler esses seus desabafos de alma.
    E vejo que me encontro como você hoje. sempre fui do tipo que acredita na bondade dos outros, mas ontem mesmo me magoei tanto em vê que a gente se doa tanto e não há reciprocidade.
    Mas quer saber? Não deixarei que uns e outros manchem toda a imagem que tenho do ser humano, que jpa que foi feito à imagem de Deus, DEVE ter ótimas qualidades ;)

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  13. Pra escrever precisa disso tudo aí que você falou: liberdade pra falar sem pudor, sem medo de nada; sensibilidade, mesmo que com o tempo ela diminua um pouco pra nossa própria sobrevivência; e força pra buscar o impossível, já que o possível é confortável demais.
    :*

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  14. Sim, pouca gente se lembra de olhar para o alto e admirar o azul do céu. Ou de olhar para o mar, que também tem um azul, mas de coloração ligeiramente diferente.
    E isso é tão fundamental como pensar.
    Bjoo!!!

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  15. Quanto tempo eu não vinha aqui rsrs

    Gostei do texto,apesar de pequenas variações rsrs

    O bom da vida é ser/sentir do que qualquer outra coisa...

    O que é impossível para mim? Aquilo que pode se tornar possível

    Bjs

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  16. Ericona, queridona, ainda vale a pena se entregar, abraçar e confiar nas pessoas. Claro, que muitas vezes saimos machucadas e decepcionadas deste 'troço'. Mas, é isto a vida não? Esta montanha russa gigante de emoções...

    beijos,

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  17. Ainda bem que você avisou que seria um emaranhado de ideias, fiquei tonto no final com tanta informação. Agora não sei o que comentar ¬¬

    Na verdade sei sim. No fundo, tudo partiu do 'sentir'. Sentir a dúvida. Sentir a vida passando e não fazer nada e sentir vontade de viver grandes coisas. Você está completamente certa quando diz que sentir é uma graça. Poucos são sensíveis a ela não é verdade?

    Espero que tenha entendido, rs.
    Hasta!

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  18. Vá, vá olhar o mar, que isso beatifica e fortalece nossas esperanças nesse mundo vão. Não hesite. Vá. Correndo.

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  19. Nesse emaranhado de informações, afirmações e objeções eu me perdi e depois lhe encontrei, Ferro. Porque em parte, às vezes, também penso como você. Ou ora fujo para não ver o que a realidade me mostra. Insensato, frio, mas dá vontade de esquecer tudo e de todos sim.

    Contudo, esqueçamos esse pensamento unilateral. O que nos consola é que há muitos com a mesma ideia e se nos juntarmos, veremos que ainda vale a pena nos doar um pouco e esse pouco será suficiente para nos fazer bem e aos outros também.

    Beijos
    :*

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  20. Ericooona!
    Me senti todinha dentro desse texto, principalmente no final. Ultimamente tenho sido assim. Confio em poucos, desconfio da maioria. Porque será que algumas pessoas não fazem conta de ser gentis, amigas umas com as outras?
    E eu não queria ser amalucada das ideias... Tem certas coisas que eu quero que sei que são sonhos que 'não valem a pena', mas que posso fazer? "/ Por enquanto, vou vivendo.

    Adorei esse texto cheio de pensamentos aleatórios! É a confusão de sentimentos em que a gente vive...

    Beijokas, Ericona! =*

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  21. As vezes o mar vem até mim, mesmo não gostando de suas variáveis. Eu gosto mesmo da ilusão do mar: gaivotas sobre as águas calmas, tempestades de nuvens que se sobrepõe e barcos solitários junto ao horizonte. Gosto da ilusão de Cecília que era um mar de versos e por fim, gostei desse seu sentimento de precisar que o mar a veja. Diferente e inusitado. Acho que vou ler e ler novamente. Algo ficou em mim agora.bacio

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  22. O caminho é esse.
    Vc falou bastante coisa, sobre um assunto: a auto descoberta, que é um despertar para as coisas em sua volta,também.
    Não entregar-se a algo, ou a quem, vc acha que é legal.
    Sentir nescessidade de sentir o que é bom, natural!
    Ser natural!
    Perceber que a normalidade é vazia.

    Poder escrever assim é um passo dado. Outros virão, né?

    A acompanharei.

    Abrçs.

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  23. Adorei a reflexão, Erica.

    Sentir é mesmo o que importa.

    beijinho*

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  24. Você abriu a alma neste post, enfocou vários assuntos, e pode-se perceber que é uma alma vibrante, com dúvidas mas também com muitas certezas, o que somente a experiência pode trazer.
    O pensamento é a chave das possibilidades; o que você acredita ser possível na maior parte das vezes realmente o é, o limite está dentro de nós. Creio que a única coisa impossível seja reverter a morte...
    Quanto a confiar ou amar as pessoas, amar é diferente de gostar. Amar é fazer e desejar o bem; gostar é simpatizar ou não com alguém, ter afinidades. Deve-se amar a todos, mas não é necessário gostar de todos... Porém, não espere que o amor seja retribuído na mesma medida ou da mesma forma; só porque alguém não lhe ama como você queria não significa que não lhe ame...
    Um beijo
    Adri

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  25. Eu gostei do post, tem uma parte que você diz que não deixou de acreditar nas pessoas, mas desconfia, ah, eu sou assim também, eu ainda acredito muito na humanidade, mas também não confio plenamante, é um paradoxo.

    p.s.
    muito obrigada pela visita no IN MY PLACE, e escute Coldplay o quanto quiser, com certeza só faz bem!!

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  26. Ah, Erica, muito obrigada pelas suas palavras. O link já está posto, com todo o carinho. Com mais calma, venho aqui ler seu texto :)

    Beijos e bom carnaval!

    Com amor,
    Cynthia ;*

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  27. Tem que deslumbrar-se com o sol e as nuvens, ver beleza nas estrelas e ser abraçada pelo luar. Também desconfio Erica, e certamente as desconfianças geram conclusões, às vezes. Mas me permito confiar muito em alguns, posso me decepcionar depois, mas é escolha feita e não volto atrás. No caso dos sonhos, vejamos bem, não acho que sonhos sejam impossíveis, não alguns, não a maioria. E penso sim, que se lutarmos para alcançá-lo, conseguiremos, mas o importante é não deixar-se viver apenas em função dele, ele é uma parte de você, uma parte que desejas muito e não vai desistir por completo até que consiga, mas ele não é você. Viva como tem que se viver, e as preocupações, a gente resolve no meio do caminho. Lindo texto Erica, como sempre :*

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  28. Muito obrigada pelo elogio e pelo comentário carinhoso, adorei. Volte sempre. Eu, em vários momentos, me encontrei no seu texto. Todas essas indagações também faço. Eu também não perdi a fé na humanidade, apesar de viver com um pé atrás, pois nem todo mundo vive de sentimentos bons, né? Beijinhos.

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  29. Bom, a natureza tem lá sua forma de se apaixonar-se. Muito bom ser assim, Erica. Deixar-se invadir pelos fenômenos naturais, pelas coisas divinas, pelas maravilhas do mundo!

    Adorei o texto.

    Beijos ;*

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