21/07/16

A palavra de ordem é SUPERAR!


Quem me conhece, sabe que eu não me sinto muito bem quando me veem como alguém que serve de exemplo para os outros, só pelo fato de ter uma síndrome rara e levar uma vida normal, como qualquer outro ser humano. Simplesmente a Síndrome de Moebius não resume quem eu sou, apenas é uma – importante – parte de mim. Sou mais que um rosto paralisado. Sou mais do que uma dicção peculiar. Sempre gosto de frisar isso. Mas é fato de que nós, todos os dias, nos deparamos com barreiras e que precisamos vencê-las. Certamente vocês já derrubaram vários obstáculos ao longo dos anos. Eu também. Somos, vocês e eu, exemplos de superação, querendo ou não. E é disso que quero falar hoje, sobre uma superação minha, uma que eu acho que vale a pena compartilhar. Houve um episódio que marcou muito negativamente a minha vida. Tal acontecimento se deu na escola, mais precisamente numa apresentação de seminário no segundo ano do Ensino Médio. Eu sempre tive receio de apresentar com medo de piadinhas e risos dos que assistiam. No entanto, quase sempre tive a sorte de ter colegas de turma que me aceitaram e me respeitaram do jeitinho único que sou. 

Quase sempre. Lembro-me como se fosse hoje, quando estava apresentando um trabalho de Filosofia, salvo engano, quando ouvi uma pessoa dizer, sem nenhuma gentileza muito menos empatia, com sorriso de escárnio, “Ai! Alguém traduz aí? Cadê a tradução simultânea?”. Parei, fiquei sem chão e não consegui dizer nada. A única coisa que consegui foi entregar a minha parte a uma colega de equipe e dizer que não mais apresentaria. Aparentemente, só eu ouvi, porque a colega não entendeu porque entreguei a minha parte a ela, mas, mesmo assim, finalizou a apresentação. Depois que acabou, a sala virou um pandemônio, porque os colegas souberam do que a pessoa havia dito comigo e todos saíram em minha defesa. Ao ouvir todo aquele estardalhaço, eu corri, corri pra bem longe da sala e fui chorar no banheiro. Estava arrasada. Tudo bem não entendermos o outro. Não entender algo que o outro diz é normal, até mesmo para quem tem uma dicção considerada perfeita. Mas o que a tal pessoa fez comigo foi um tanto cruel. Ela me desestabilizou totalmente e fez com que eu me sentisse uma espécie de alienígena caída, por acidente, na Terra. Após isso, eu não apresentei mais trabalhos, mesmo com todos (colegas de classe e professores) falando pra que eu apresentasse, que eles me entendiam, que eu não poderia me deixar abater por pessoas sem noção. Porém, eu não conseguia. Passei a ter pânico de apresentações de trabalhos. Perdi pontos por só entregar trabalhos escritos, sem a parte do seminário. Mas não consegui superar aquilo.

Quando terminei o Ensino Médio, entrei em crise, porque eu queria ingressar no ensino superior, mas todos falavam que na universidade a cobrança era alta e havia MUITOS seminários. Ouvi “seminário”, travei. Me sabotei de todas as formas para não entrar no Ensino Superior. Eu não conseguia superar o fato de que eu precisava lidar com o público. Eu não conseguia vencer o trauma do ensino médio. Eu não conseguia esquecer a imagem daquela pessoa, sorrindo com escárnio, de mim.

Finalmente, consegui me forçar a fazer ENEM e, depois de cinco anos de sabotagem comigo mesma, entrei no curso de Biblioteconomia da UFAL. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Eu consegui entrar, mas confesso que com o coração na mão, com muito medo do que aconteceria a partir de então. E só me aconteceu boas coisas, PARA A MINHAAAAA ALEGRIAAAA e surpresa. Já no segundo semestre, entrei num projeto de iniciação científica (PIBIC). Ganhei o coraçãozinho da minha turma (2013.1) e, finalmente, fui perdendo o medo de falar, de me posicionar, de estar na linha de frente.

Então, nesse semestre, eu me matriculei numa disciplina eletiva chamada Seminários de Integração em Biblioteconomia e Ciência da Informação achando que era eletiva do sexto ou do sétimo. Qual não foi a minha surpresa em chegar lá e me deparar com uma turma totalmente desconhecida. Momento de pânico. “Onde estou? Quem são essas pessoas?”. Eu caí de paraquedas no terceiro período. Não conheço ninguém (com exceção de umas novas colegas de turma muito bacanas que já foram gentis). Como o nome da disciplina denuncia, é uma disciplina de SEMINÁRIOS. Imagina a dor no coração que eu senti hoje quando o professor disse “Juntem-se em duplas ou trios, elaborem suas falas sobre texto x, que daqui a 25 minutos faremos um seminário.”. Pensei “E agora? Será que alguém vai rir? Será que alguém vai pedir tradução simultânea? Será que alguém vai ser cruel comigo? Será que vou reviver aquela cena lá do ensino médio?”. Mantive o controle emocional, elaborei minha fala e encarei aquelas pessoas que não conheço e que não me conhecem. Espantosamente, eu estava muito calma, muito tranquila comigo mesma. Falei tudo o que eu precisava falar. Terminei. Ninguém riu. Ninguém agiu de modo ofensivo. Senti uma paz enorme. Mesmo que alguém tivesse rido, mesmo que alguém tivesse sido cruel, eu percebi que nada nem ninguém conseguirá mais me abalar. Não em relação a apresentação de seminários.

Eu superei o trauma do ensino médio. Eu, verdadeiramente, não sinto mais vontade de me esconder, de me isolar, de me deixar à margem. Doa a quem dor, custe o que custar, eu existo. Eu estou aqui e não vou mais me sabotar. Não vou mais me anular. Não vou mais deixar meus sonhos na gaveta por medo de encarar o mundo, que por muitas vezes é cruel e impiedoso com toda e qualquer pessoa denominada “diferente”. E o que eu quero dizer, para finalizar, é isso: nunca deixem que lhe magoem a ponto de vocês desistirem de seus sonhos, nem que sejam por cinco minutos, cinco meses ou cinco anos. Mesmo que o mundo seja impiedoso e cruel, não desistam de vocês mesmos. Vocês não precisam de permissão de ninguém para serem quem são. Sejam gentis, mas saibam batalhar por seus direitos e por seus lugares ao sol. Vocês não precisam de aval de ninguém para serem felizes. Lembrem-se disso, sonhem muito, trabalhem ainda mais e ganhem o mundo. A vida é bela, sobretudo quando sabemos extrair o melhor de tudo que vivemos.

Com amor,
Erica Ferro
21/07/2016

11/07/16

Tudo que vai, volta. Ou não.

É, talvez nem tudo que vai, volta. Mas eu, depois de uns três meses longe desse bloguinho querido, voltei!

Fonte

Motivos que me fizeram ficar afastada do blog por tanto tempo, como nunca antes: no primeiro mês, em decorrência de uma mescla de preguiça e falta de tempo; nos dois últimos meses, estava sem internet no computador. Vocês podem imaginar o quanto fiquei louquinha sem internet. Usava apenas os dados móveis do celular, que acabavam logo e não permitiam fazer muitas coisas além de responder mensagens no WhatsApp e acessar Facebook e o Twitter.  Porém, minha agonia acabou dia 28 de junho, quando finalmente passei a usar um outro serviço de Internet, que até agora não me deu problemas e parece ser mesmo bom.
Nesses meses distante desse cantinho, não fiz muito mais do que nadar, estudar e às vezes ler e assistir uns filmes. Viajei também. Fui a Fortaleza, no início de junho, nadar os Jogos Aquáticos do Ceará, competição na qual conquistei cinco medalhas (3 de ouro, 1 de prata e 1 de bronze). Foi uma competição difícil, visto que estava sem treinar por conta de dores na lombar e no joelho, mas, no entanto, deu pra manter algumas marcas e ter bons momentos, dentro e fora d'água. No meio do mês de junho, viajei a São Paulo por duas razões: fazer uma avaliação ortopédica no Instituto de Órtese e Prótese (IPO) e participar do Aberto Paulista de Natação, organizado e realizado pela Federação Paulista de Desportos para Cegos (FPDC). Descobri, depois de 26 anos, que há uma prótese maravilhosa para o meu tipo de coto, com o pé em fibra de carbono. Um sonho! Contudo, custa cerca de R$ 25.000, e óbvio que eu não tenho condições de comprar. Portanto, farei uma campanha muito em breve para arrecadar a grana da prótese. Tenho bons amigos que sei que me ajudarão e compartilharão a campanha nas redes sociais e/ou no "boca a boca". Minhas dores na lombar e no joelho, segundo o querido fisioterapeuta e protético da IPO, são em decorrência da prótese de baixa qualidade que uso, que não me dá sustentação na perna nem amortece minha pisada; assim, forço muito a ponta do coto pra andar, fazendo com que minha tíbia, joelho e lombar doam loucamente. Sendo assim, adquirir essa prótese de alta qualidade não será apenas pra poder ser corredora (eu quero muito experimentar a sensação de correr sem sentir tanta dor ou achar que a prótese vai "rasgar" a qualquer momento), além de nadadora, mas, sobretudo, será pra viver melhor e diminuir os ricos de lesões na coluna e na perna direita, devido ao encurtamento e a ausência de quase todo o pé direito. Sei que vai dar certo e, tão logo for possível, estarei andando bem, com qualidade e sem sentir tantas dores. Quando eu, junto com uns amigos super criativos e inteligentes, bolarmos a campanha, compartilharei aqui com vocês e em todos os meios possíveis e imagináveis. Desde já, conto com o apoio de vocês.
No dia 3 de julho, dias atrás, estive em Salvador, participando pela segunda vez de um dos maiores eventos de praia: o Rei e Rainha do Mar. Nadei a prova Classic (2km) no mar de São Tomé de Paripe, e foi muito bom, apesar de eu ter me perdido muito durante a prova. Acontece o seguinte: eu uso óculos e tenho 4,5 de grau no olho esquerdo e 4,0 no olho direito. As lentes dos meus óculos de natação são comuns, sem graus, então eu realmente fico perdida no mar, e tenho que fazer um esforço enorme pra enxergar as boias que traçam o percurso da prova. Eu já deveria ter providenciado óculos de natação com grau pra nadar no mar, porque na piscina não é algo que me prejudica tanto, mas em mar aberto é algo que preciso pra ontem. Conquistei um lindo troféu em terras baianas: primeiro lugar na prova Classic, categoria PCD (pessoa com deficiência) feminino. Foi bem bacana ouvir meu nome sendo anunciado nos altos falantes, subir ao pódio e ser premiada pelo Pedro Scooby, surfista de grandes ondas. Foi mágico! Vivo justamente pra poder ter mais momentos assim, que me elevam o espírito e me fazem sentir que tudo, ao final, vale a pena.
Acho que, por hoje, é só. O intuito era mesmo só registrar os motivos pelos quais fiquei fora e dizer que estou de volta. Não sei qual será a frequência das postagens, apenas tenho comigo mesma que sempre que bater uma vontade de transformar pensamentos em letras, preciso vir aqui. Não posso deixar a procrastinação roubar uma das coisas que mais gostava de fazer: escrever. Escrever sobre tudo e nada, sobre levezas e extremos. Não posso deixar de escrever minhas histórias, muito menos de inventar estórias e fingir ser poetisa, cronista e contista. Escrever é delicioso e preciso voltar a fazer disso um hábito que eu sei que vai me fazer bem e mais alegre.

Por fim, uma música bonita que tenho ouvido nos últimos tempos:

Quase sem querer - Legião Urbana

♫♪♫ Tenho andado distraído
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso
Só que agora é diferente
Estou tão tranquilo
E tão contente

Quantas chances
desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém ♫♪♫



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Até a próxima, gente. E que seja em breve!

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